Ao chegar ao m?s de dezembro muitas coisas mudam, por exemplo, as lojas mudam a decora??o, o comportamento das pessoas ? alterado para um clima de harmonia e festa, e por a? vai. Dizem que as pessoas se deixam envolver pelo esp?rito do natal e, consequentemente, agem e sentem de modo diferente, mais fraterno e humano.
As mudan?as s?o t?o marcantes e vis?veis que no in?cio do s?culo XX o escritor Machado de Assis chegou a exclamar: ?Mudaria o Natal ou mudei eu?? em seu poema Sonetos de Natal publicado em Poesias Completas, em 1901. A grande quest?o ? o porqu? de as pessoas se comportarem dessa forma somente nessa ?poca do ano. Parece que descobrem mais beleza na vida e vivem sorrindo para os outros e para sua pr?pria vida, como se estivessem na vida a passeio. N?o seria uma hipocrisia? Ser? que h? mais esperan?a para as pessoas nessa ocasi?o? Afinal, o que muda, de fato, no dia 25 de dezembro?
Jesus, o nazareno
Para responder ?s perguntas acima, o primeiro fato que h? de se considerar ? o local e a data do dia 25 de dezembro para comemorar o natal. Ser? que Jesus realmente nasceu dia 25 e em Bel?m? Os relatos b?blicos de Mateus e Lucas que trazem a inf?ncia de Jesus n?o informam a data do nascimento do Messias, mas nos dizem que a cidade que Jesus nasceu ? Bel?m. Essa n?o ? a vers?o do evangelista Marcos, que aponta ser em Nazar?.
O fato ? que tanto Mateus como Lucas, na fase adulta de Jesus, o chamam de ?Jesus de Nazar?, por exemplo, o fato narrado por Mateus quando Pedro nega a Jesus, ele conta que uma criada estava no P?tio e ao ver Pedro afirma: ?Tu estavas com Jesus, o Galileu (…) e saindo para o vest?bulo, outra criada o viu e disse aos que ali estavam: Este tamb?m estava com Jesus, o nazareno? (Mt 26.69-71). Tamb?m percebemos o povo gritando em sua entrada triunfal em Jerusal?m: ?Este ? Jesus, o profeta de Nazar? da Galileia? (Mt 21.11).
O mesmo acontece na narra??o lucana na qual ? mencionado que Jesus nasceu em Nazar?, embora o evangelista Lucas cita no cap?tulo 4.16 que ele fora criado em Nazar?, sempre o chama de ?Jesus de Nazar?, por exemplo, ao realizar uma cura em Cafarnaum (Lc 4.34), ao curar o cego de Jeric? (Lc 18.37), no caminho de Ema?s no cap?tulo 24. No livro de Atos dos Ap?stolos, tamb?m de autoria do evangelista Lucas, quando se refere a Jesus, o autor o trata da mesma forma (At 2.22; 3.6; 4.10; 10.38; 22.8).
O belemita
Por que o local do nascimento de Jesus ? considerado no mundo todo como sendo em Bel?m? O sacerdote e biblista argentino Ariel ?lvarez Vald?z, da Universidade Cat?lica de Santiago de Esterro, Argentina, defende que isso ? um fato hist?rico e precisa ser considerado, ou seja, os dois evangelistas, Mateus e Lucas, queriam testificar a chegada do Messias glorioso. ?Eles quiseram afirmar que Jesus era o famoso Messias esperado pelo povo de Israel?, disse.
Sendo assim, podemos crer que os evangelistas citam que o nascimento de Jesus se deu em Bel?m. Al?m do mais, segundo o biblista, ?o povo precisava entender que era necess?rio relatar a origem de Jesus levando em considera??o a mentalidade judia, neste caso, o futuro Messias deveria ser um descendente da fam?lia de Davi. Por volta do ano 500 a.C., apareceu em Jerusal?m um profeta an?nimo dizendo que o Messias viria de Bel?m. Essa profecia se encontra hoje no livro de Miqueias? (5.1-3), disse.
Se levarmos em conta a profecia de Natan (2Sm 7.4-16), ?lvarez tem raz?o, pois a profecia diz que Deus havia garantido a Davi que nunca iria faltar um descendente seu como sucessor no trono de Jerusal?m. O profeta Miqueias, segundo ?lvarez, quis dizer que ?Deus n?o olhava com bons olhos a cidade de Jerusal?m porque era uma cidade que havia prostitu?do tantos reis com o poder e n?o era um bom lugar para nascer o Messias Ungido, e Davi, o rei mais humilde que houve em Israel, havia nascido em Bel?m. Portanto, se os/as judeus/as quisessem um novo rei deveriam preparar o ambiente como Bel?m?.
?lvarez acrescenta ainda que a profecia ?n?o pretendia fixar um lugar geogr?fico para o nascimento do sucessor do rei, o Messias Ungido, mas era uma proposta para os governantes de voltarem ? humildade e sensibilidade de suas origens. Ela era uma advert?ncia do que Deus queria para os reis de Israel?.
O surgimento do 25 de dezembro
Para os/as crist?os/?s, o local onde nasceu Jesus ? indiferente, pode ser Bel?m ou Nazar?. O que importa, de fato, ? que Jesus ? o Messias. O que dizer, ent?o, do dia 25 de dezembro? Pois os evangelhos n?o mencionam a data exata do nascimento de Jesus. O pastor metodista Edson Cort?sio Sardinha, em mat?ria publicada no Jornal Avante, afirma que ?a data do dia 25 de dezembro foi fixada pelos pag?os para celebrar o nascimento do sol Natalis solis invicti. Os pag?os s? come?aram a celebrar essa data no ano 274 d.C. Nesse per?odo, a igreja estava passando pelos seus ?ltimos e terr?veis dias de persegui??o. O paganismo estava ainda forte, e esta foi uma estrat?gia para apagar as ra?zes do Cristianismo e formar ra?zes religiosas nos pag?os?, diz o texto.
No ano 336 d.C., a Igreja de Roma assimilou essa festividade pag? como data do nascimento de Jesus Cristo, pr?tica essa que come?ou a ser difundida a partir de Roma para as demais igrejas crist?s. Finalmente, em 440 d.C., o dia 25 de dezembro foi oficialmente estabelecido como data do nascimento de Jesus, o que, at? hoje, ? aceito por toda cristandade.
O que muda nessa ?poca do ano
Come?amos este texto falando sobre as mudan?as significativas na vida das pessoas nessa ?poca do ano. ? verdade que, quando chega o Natal, as pessoas come?am a ficar mais sens?veis, elas abrem seu cora??o, muitas vezes cheio de m?goas, ?dios e tristezas, para dar lugar ? solidariedade, estendendo as m?os.
A maioria das igrejas crist?s prepara seus corais para exibirem as vozes dos tenores, contraltos e baixos em diversas apresenta?es, dentro e fora das igrejas como uma forma de anunciar a chegada do esperado Messias. O com?rcio, por outro lado, aproveita a ocasi?o fazendo a invers?o dos valores ao afirmar que um Natal feliz ? aquele em que voc? ganha e doa presentes. Como crist?os/?s, n?o podemos cair nessa cilada do com?rcio e gastar, sem planejamento, pois no in?cio do ano as despesas aumentam com, por exemplo, IPVA, material escolar, IPTU, matr?culas escolares, entre outros, al?m de embutir na cabe?a das crian?as que no Natal elas t?m que ganhar presentes.
Solidariedade
V?rias campanhas surgem nessa ?poca do ano para beneficiar crian?as carentes. A ONG Alfa, fundada em 2006 no estado do Rio de Janeiro, surgiu como uma iniciativa por meio da jun??o de um grupo de pessoas que desejava doar tempo e recursos para gerar melhorias na cidade, al?m de ampliar os projetos sociais com os quais estavam envolvidos/as. Uma das fundadoras da ONG, Chirlen Vieira, destaca a desigualdade social. ?Ao nosso redor, fam?lias de baixa renda passam dificuldades para adquirir rem?dios, alimentos e utens?lios dom?sticos. Filhos/as dessas fam?lias, muitas vezes, n?o t?m acesso ? educa??o, ? cultura e a pr?ticas esportivas. Juntos/as n?s podemos semear sorrisos, semear esperan?a e semear o futuro para o nosso pa?s?, disse Chirlen.
Outro projeto interessante ? o Crian?a e Consumo, que tem a finalidade de divulgar e debater ideias sobre as quest?es relacionadas ? publicidade dirigida ?s crian?as, assim como apontar caminhos para minimizar e prevenir os preju?zos decorrentes dessa comunica??o mercadol?gica.
Faz parte do escopo do projeto a Feira de Trocas de Brinquedos, que ? uma a??o de mobiliza??o e seu objetivo principal ? gerar reflex?o sobre o consumismo e possibilitar que a crian?a d? um novo significado para os seus pr?prios brinquedos. A feira foi lan?ada em 2012 e ? uma boa iniciativa para levar as crian?as da Igreja para trocar os brinquedos. O site da Feira de Trocas fomenta e contribui com material de apoio para a realiza??o de feiras de maneira aut?noma, em todo o Brasil. No primeiro ano, foram organizadas 51 feiras. Em 2015, foram mais de 60 feiras, entre elas uma em Londres (Inglaterra). Para ver se tem uma feira de trocas de brinquedos em sua cidade acesse http://feiradetrocas.com.br.
Como contribuir?
Que tal come?ar a praticar agora mesmo, espalhando alegria, entusiasmo pela vida e felicidade para as pessoas? Um sorriso amigo, um
abra?o, um elogio, um carinho, algumas palavras cordiais ou de amor durante todo o ano n?o custam nada, voc? os tem dentro de si em fonte inesgot?vel!
Neste Natal, vamos produzir mais esperan?a. Isso ? tudo que o povo precisa, apenas de esperan?a! O biblista Dr. Milton Schwantes (in memorian) diz em seu livro Sofrimento e Esperan?a no Ex?lio que ?os moradores das periferias urbanas viraram imensos acampamentos. As pessoas foram ficando sem nada, a n?o ser a escravid?o ou o sal?rio. Os povos latino-americanos foram transformados em exilados em seus pr?prios pa?ses. Aqui s?o habitantes. Mas aqui n?o s?o cidad?os? (p. 9). No ex?lio havia esperan?a! Esses imensos acampamentos ? que precisam ser alcan?ados por cada um/a de n?s.
Escrito por Jos? Geraldo Magalh?es
Publicado originalmente no Jornal Expositor Crist?o impresso de dezembro