Publicado por Redação em Notícia, Política, Nacional - 01/12/2016 às 10:58:39

Os/as Evangélicos/as e os 127 anos da República Brasileira

2016_12_brasao_brasil

Passados mais de um século da Proclamação da República, a sociedade brasileira pergunta se os seus ideais e os seus propósitos foram e têm sido realizados. A saber:

  1. A igualdade de todas e todos perante a lei;

  2. A isenção de privilégios de classes, grupos e categorias sociais;

  3. A livre expressão de ideias sem censuras e medos;

  4. O acesso universal à educação, moradia, segurança e saúde;

  5. O exercício da cidadania plena (política e social) por parte dos seus cidadãos e cidadãs;

  6. O respeito às diferenças e à diversidade;

  7. A distribuição igualitária de renda;

  8. O Estado laico.



.
Olhando para a sua história repleta de tensões, a resposta fica distante de ser positiva. Foram ciclos de crises políticas e sociais causadas pelos conflitos de interesses entre as elites dominantes e por tentativas de exclusão de maior e efetiva participação política das classes subalternas e médias, tanto no campo como na cidade. Ao todo foram sete constituições, vários golpes e tentativas de golpes, uma guerra civil, pelo menos duas ditaduras e cinco presidentes que não completaram o mandato (sendo que um suicidou-se e dois saíram por impeachment).
.
A República herdou uma sociedade desigual, racista, sexista e marcada pelas práticas de corrupção em todos os níveis, e esta herança ainda permanece, sobretudo oprimindo os/as mais empobrecidos/as e as minorias. Mesmo havendo avanços em todos os níveis, este processo se caracterizou como sendo uma modernização conservadora, ou seja, moderniza-se, mas se mantém os privilégios e as desigualdades.
No entanto, foram as forças e as pressões oriundas dos movimentos sociais, dos partidos políticos, dos sindicatos, das camadas médias urbanas e das populações periféricas submetidas à violência e à desigualdade, junto com as manifestações culturais ricas e plurais, que tornaram o Brasil uma sociedade paradoxalmente alegre e criativa, com uma capacidade de superação singular dos seus problemas mais agudos e estruturais.
.
Neste cenário, perguntamos: E os/as protestantes e evangélicos/as em relação à República? Inicialmente, foram apoiadores/as propositivos/as à República. Defenderam bandeiras, como o voto feminino, a alfabetização universal e a educação, a democracia, o estado laico e a liberdade religiosa, influenciados/as pelo Evangelho Social das primeiras décadas do século XX. Fundaram igrejas, escolas, universidades, hospitais e uma imprensa crítica, inserindo no cotidiano outras práticas religiosas e sociais. De fato, em coerência com a história e o legado teológico reformado, quem mais deveria afirmar a república em seus propósitos e ideais mais humanos de justiça e de igualdade seriam os/as protestantes e evangélicos/as.
.
No entanto, sobretudo após o golpe de 1964 e o regime militar, os/as evangélicos/as, mesmo com exceções proféticas de lutas e resistências até hoje, tornaram-se aliados/as, em sua maioria, a um projeto de república excludente e mantenedor da desigualdade social. Esse posicionamento coincidiu com o crescimento numérico exponencial no período da Nova República (1988-2016), a conquista de espaço no campo político e midiático e a hegemonia de um discurso fundamentalista e autoritário.
.
E, contrariamente ao seu legado reformado de liberdade de pensamento e de tolerância, os/as evangélicos/as, em suas expressões eclesiásticas e manifestações no espaço público (político, cultural e midiático), posicionam-se reativamente contrários/as às necessárias mudanças e transformações sociais e políticas, na direção de uma sociedade mais justa, equânime e pacífica. Esta realidade evangélica mais ampla, entretanto, se contrapõe às muitas ações e práticas invisíveis à grande mídia, por parte de igrejas e de movimentos atuantes nas bases e nas periferias, servindo e cuidando das pessoas que sofrem injustiças e violências.
.
Eis, portanto, um tempo de autocrítica, de revisitação dos pressupostos reformados e de posicionamentos mais críticos ante as contradições de uma república que ainda não aconteceu. Isto para que “corra o juízo como as águas, e a justiça, como ribeiro perene” (Amós 5.24).
.

Brasil, 15 de novembro de 2016

Lyndon Araújo Santos | Pastor da Igreja Evangélica Congregacional de São Luis/MA
Doutor em História, professor do Departamento de História da UFMA, desde 1995.
Publicado no Expositor Cristão impresso de dezembro 2016

Publicado originalmente em www.aliancaevangelica.org.br

Posts relacionados

Entrevista, Metodismo, Notícia, Conscientização, por José Geraldo Magalhães Jr.

Educação Ambiental e a Igreja

Na primeira edição do ano, reforçamos o tema da Igreja Metodista que será trabalhado em 2019 – Discípulas e discípulos nos caminhos da missão cuidam do meio ambiente. No entanto, há muita teoria e pouca prática.