Publicado por José Geraldo Magalhães Jr. em Entrevista, Metodismo, Notícia, Conscientização - 29/01/2019 às 12:35:04

Educação Ambiental e a Igreja

Na primeira edição do ano, reforçamos o tema da Igreja Metodista que será trabalhado em 2019 – Discípulas e discípulos nos caminhos da missão cuidam do meio ambiente. No entanto, há muita teoria e pouca prática. O missionário Ailton Machado, brasileiro que atua no Seminário Teológico Metodista em Moçambique há pouco mais de um ano, aponta que as iniciativas praticadas na África servem como exemplo para serem praticadas no Brasil. 

Antes de compartilhar essa experiência do missionário, é importante ressaltar que trabalhar temas relacionados ao Meio Ambiente na igreja local está ligado à educação cristã, mordomia cristã e aos cuidados com a criação de Deus. Dessa forma, também é importante enfatizar o que é uma educação ambiental.

A Carta Pastoral sobre Meio Ambiente – documento escrito pelos/as bispos/as da Igreja – publicada em fevereiro diz: “A Igreja Metodista tem, em suas raízes históricas, esta preocupação com a natureza, tendo como referência a mordomia cristã, que reconhece que a natureza revela as grandezas do Deus Criador!”.

Na Igreja Metodista no Planalto, em Belo Horizonte/MG, já foram realizadas algumas ações, como destaca o Pastor Dilmar de Carvalho Paradela. “Precisamos repensar os espaços urbanos e ter uma política de reciclagem que seja séria também. Na igreja local temos reciclado óleos, produzindo sabão que é utilizado na limpeza da igreja local e também pelas famílias. A reciclagem de roupas através do bazar também é um caminho interessante”, disse o Pastor Dilmar.

Não faltam livros, documentos e leis para uma orientação cidadã, além de recursos bíblicos que tratam da criação de Deus. O livro Meio Ambiente para o Século 21 esclarece a definição de Educação ambiental da seguinte forma: “Processo em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o enfrentamento das questões ambientais e sociais. Desenvolve-se num contexto de complexidade, procurando trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a transformação social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política.”

Para a Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9795/1999, Art 1º), educação ambiental passa por um processo de conscientização. “Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade”.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental (Art. 2°.) também ajudam a compreender a importância do tema. “A Educação Ambiental é uma dimensão da educação, é atividade intencional da prática social, que deve imprimir ao desenvolvimento individual um caráter social em sua relação com a natureza e com os outros seres humanos, visando potencializar essa atividade humana com a finalidade de torná-la plena de prática social e de ética ambiental.”

Não faltam teóricos, conferências e ações do Ministério do Meio Ambiente para alertar sobre um tema tão importante para toda a população mundial. J.S. Quintas é um defensor da Educação Ambiental. Autor de Salto para o Futuro (2008), Quintas defende que a conscientização de diversos grupos sociais pode ajudar nas decisões que afetam o Meio Ambiente. “A Educação Ambiental deve proporcionar as condições para o desenvolvimento das capacidades necessárias; para que grupos sociais, em diferentes contextos socioambientais do país, intervenham de modo qualificado tanto na gestão do uso dos recursos ambientais quanto na concepção e aplicação de decisões que afetam a qualidade do ambiente, seja físico-natural ou construído, ou seja, educação ambiental como instrumento de participação e controle social na gestão ambiental pública”, disse Quintas.

O tema da Educação Ambiental é discutido há vários anos. A Conferência Sub-regional de Educação Ambiental para a Educação Secundária, realizada em Chosica, Peru, em 1976, já alertava: “A educação ambiental é a ação educativa permanente pela qual a comunidade educativa tem a tomada de consciência de sua rea­lidade global, do tipo de relações que os homens estabelecem entre si e com a natureza, dos problemas derivados de ditas relações e suas causas profundas. Ela desenvolve, mediante uma prática que vincula o educando com a comunidade, valores e atitudes que promovem um comportamento dirigido à transformação superadora dessa realidade, tanto em seus aspectos naturais como sociais, desenvolvendo no educando as habilidades e atitudes necessárias para dita transformação.”

A discussão sempre vem à tona justamente por existir poucas ações se comparadas às possíveis de serem realizadas. Fica o desafio de discutir e conscientizar sobre o tema nas igrejas locais nos espaços da Escola Dominical, em reuniões­ das sociedades de juvenis, jovens, homens e mulheres, além dos sermões dominicais. Dessa forma, é possível elaborar ações para cuidar do Meio Ambiente; o trabalho pode ser iniciado ao eliminar os copos de plástico muito utilizados nas igrejas. Ações que envolvem a comunidade também podem ser realizadas em conjunto, por exemplo, a coleta de óleos de cozinha que já foram utilizados. Esse material reciclado pode ser reutilizado na fabricação de sabão. São várias as possibilidades para cuidar da Criação de Deus.

Experiência em Moçambique

Antes mesmo de completar um ano de missão em Moçambique, o pastor Ailton Machado, enviado para o Seminário Teológico Metodista no país, já teve a oportunidade de aprender muito sobre a cultura africana, mas os conhecimentos não se limitam às diferenças culturais ou à área da educação. O Pastor Ailton destacou na entrevista a sua descoberta de atuar como um “paistor” para os/as alunos/as e a consciência sobre consumo e meio ambiente adquirida na área rural onde vive. 

Ele também compartilhou sua experiência com a malária, pela qual já foi acometido quatro vezes, e falou sobre o projeto na área de informática desenvolvido pela esposa, Ana Lúcia de Farias, que o acompanha na missão junto com o filho do casal, Victhor Hugo de Farias Machado, desde abril de 2018. 

Expositor Cristão: De modo geral, quem são as pessoas que têm trabalhado em Moçambique através da Igreja Metodista? 
Pastor Ailton Machado: Estamos em uma missão 100% metodista, com missionários/as americanos/as em parceria com alemães/ãs, cuidando, fazendo a administração, enviando recursos para lá. Há outros/as missionários/as, inclusive um missionário do Congo e gente do Brasil. Essa equipe tem um número de seis pessoas que estão lá residentes, fora o grupo dos/as alemães/ãs que vão lá para fazer a supervisão e fazer um trabalho mais pontual. 

EC: E como tem sido a recepção do seu trabalho? O senhor dá aula e tem contato direto com as pessoas e as famílias das pessoas que estudam? 
AM: Lá é um pouco a realidade da UMESP – Universidade Metodista de São Paulo, embora seja algo bem menor se comparado. É uma realidade pequena, um ambiente rural, mas com pessoas da mesma faixa etária, que hoje em dia são alunos/as mais novos que antigamente, então, acabamos fazendo essa função um pouco mais “paistoral” de cuidar dos/as mais novos/as. Vemos uma realidade financeira um pouco mais difícil do que a nossa aqui no Brasil. 

EC: Sobre essa experiência de ser “paistor”, o senhor esperava essa realidade? Havia essa expectativa ou foi um desafio que encontrou lá? 
AM: Não sei se esperava. Mas é um pouco a realidade do seminário aqui. A minha turma da UMESP (2003), dizem, foi um divisor de águas, porque veio realmente uma turma muito jovem, então nós vivemos essa necessidade de um precisar do outro, e a estrutura da UMESP é muito boa nesse sentido, na questão da tutoria. Tínhamos um professor que foi um “paizão” para nós, o professor Tércio Siqueira, da área de Bíblia. Ele foi um “paistor”. 

EC: Além das questões econômicas, quais são as principais diferenças no desafio dessa missão?
AM: Nós estamos vivendo em área rural. Sentimos a maior diferença. Lá vivemos uma realidade de plantar no quintal de casa, sair plantando alface, colhendo alface, comendo da própria horta a batata, cenoura etc. Essas coisas você nunca imaginou viver. Pode ser até uma coisa boba, mas essa experiência tem sido bem gratificante. Porque, é claro, aprendemos muita coisa que parece básica, né? Nas capitais, não temos a menor noção de cuidado, e de tirar da terra os produtos que é possível ter, não precisar ir para o mercado. Aqui, quando vamos ao mercado, parece que economizamos dinheiro, mas lá é o contrário. O que está no mercado são coisas que vêm de fora do país e por isso são mais caras, enquanto as pessoas podem produzir no seu próprio ambiente, muitas vezes até comprando de vizinhos, trocando, torna-se uma realidade muito mais barata para eles/as. 

EC: Acha que essas questões de consumo se relacionam com o tema da Igreja Metodista brasileira de 2019: Discípulas e discípulos nos caminhos da missão cuidam do Meio Ambiente? 
AM: Sim. Ainda é um trabalho bem recente, esse foi o primeiro ano que nós trabalhamos, mas acredito que com o passar do tempo vamos ganhando ainda mais experiência e, claro, pode ser outro tema quando estivermos aqui, mas o legado fica, de passarmos alguma coisa com relação ao Meio Ambiente. Porque lá é uma realidade financeira de vida um pouco precária, mas o trato com a terra, o respeito com a questão do meio ambiente, acredito que é melhor. Nós temos a aprender com eles/as lá. Certamente ainda vamos aprender outras coisas. Minha esposa não está aqui, mas ela teve mais oportunidade de aprender a trabalhar com a terra e adquirir as experiências da comunidade. 

EC: Como tem sido a experiência para sua esposa, Ana Lúcia? 
AM: Ela tem contribuído, aprendido com essa relação com o meio ambiente, essa questão da terra e ela também tem desenvolvido um trabalho na área de informática, que já era um trabalho que outros/as missionários/as brasileiros/as começaram lá, e ela abraçou essa área. A Universidade tem cursos de Engenharia da Computação, então eu acredito que, como até conversei com o reitor, para chegar lá acho que o curso técnico seria algo fantástico, porque são degraus. Às vezes a comunidade local tem aquele sentimento de “nós não somos capazes”, pois as pessoas que vêm para a universidade não são da comunidade, são de fora, com um pouco mais de recurso. É aquela coisa de capacitar mesmo. Muitos/as já fizeram o curso básico, e queremos este ano trazer um curso avançado com a perspectiva de transformar em um curso técnico e, assim, automaticamente criar degraus. Agora vou orar para que tudo dê certo. 

EC: Alguma experiência específica o marcou nesses últimos meses?
AM: Tivemos uma experiência com a malária, uma questão bem delicada para o país. Infelizmente, nos arredores da missão, as pes­soas sofrem muito com a doença. Eu já fui acometido três vezes lá no país e uma quando voltei nesse período de recesso. É uma coisa bem desagradável. Infelizmente muitos/as morrem, as pessoas com menos condições físicas. Às vezes os/as mais simples não têm uma alimentação boa e por vezes chegam a um nível muito forte e acabam realmente indo a óbito. Chegamos a sentir na pele o que são esses sintomas. Precisa ter um controle de medicação muito rigoroso, e muitas pessoas lá não seguem à risca, acabam tendo esse problema e muitas vezes são levadas a óbito. Ficamos na expectativa de que realmente possamos nos ver livres desse mal. 

Pr. José Geraldo Magalhães 

Sara de Paula

Publicado na edição de fevereiro de 2019 do Jornal Expositor Cristão impresso.


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