Publicado por Redação em Notícias - 05/03/2018 às 15:19:16

Ações da Igreja no combate à violência contra a mulher

O mês de março é marcado por celebrações, entrega de flores, declarações, entre tantas outras homenagens que são feitas para as mulheres, tendo em vista que no dia 8 comemora-se o Dia Internacional da Mulher. A história dessa data, na verdade, é muito triste (veja no Box), mas as mulheres precisam ser lembradas por suas lutas, desafios e conquistas que foram alcançados ao longo dos séculos. Nesta edição, o Expositor Cristão retoma o tema da violência contra as mulheres. 

Segundo a ONU Mulheres Brasil, as cidades de Salvador, Natal e Fortaleza lideram ranking de violência física contra as mulheres. A Organização aponta que pela primeira vez estudo faz ligação da violência doméstica no Nordeste brasileiro, com foco em gerações, vulnerabilidades raciais e socioeconômicas e incidência sobre a saúde, direitos sexuais e direitos reprodutivos das mulheres. 

Nos últimos 12 meses, 11% das mulheres nordestinas foram vítimas de violência psicológica, enquanto 5% sofreram agressões físicas e 2% violência sexual no contexto doméstico e familiar. Dentre as nove capitais investigadas, a violência psicológica foi identificada por 16% das mulheres entrevistadas em Natal; a violência física, por 7% das mulheres de Maceió; e a violência sexual, por 4% das mulheres de Aracaju.

Os dados fazem parte da Pesquisa Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, que entrevistou 10 mil mulheres, representativas de 5 milhões de mulheres que vivem nas nove capitais do Nordeste. Em Maceió (69%) e Recife (53%) a frequência da violência doméstica desponta com incidência considerável (às vezes, frequente ou sempre) nos últimos 12 meses.

Nadine Gasman (à esquerda), representante da ONU Mulheres Brasil, destaca a urgência de investimentos em políticas e serviços essenciais de atenção a mulheres em situação de violência. “Não deixar ninguém para trás: acabar com a violência contra as mulheres e meninas. O Nordeste é uma das regiões com mais desigualdades no país, com machismo arraigado e concentração de população negra. A pesquisa capta a complexidade da violência de gênero com recorte racial e geracional, que demanda respostas políticas multissetoriais, como estabelece a Lei Maria da Penha ao evocar ações integradas da saúde, segurança pública, justiça, educação, psicossocial e autonomia econômica”, disse Nadine.

Há outros estados que também aumentam essa estatística. A Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, por exemplo, registrou somente em janeiro desse ano, 11,2 casos de violência contra mulheres. Os índices mais altos foram 4,8 mil por lesão corporal, 5,8 mil casos por ameaça e 1,05 mil por calúnia, difamação e injúria. Foram 1,7 mil casos a mais se comparados com dezembro de 2017.

Outra pesquisa divulgada recentemente pelo Conselho Nacional do Ministério Público, o Estado do Espírito Santo, ocupa a 5ª posição em números de homicídios de mulheres. De acordo com informações da Secretaria de Estado de Segurança Pública, somente até setembro de 2017 foram registrados 95 homicídios contra mulheres, sendo que durante todo o ano de 2016, 99 mulheres foram assassinadas no Estado.

 

Ações da Igreja

No artigo da Bispa Marisa de Freitas Ferreira, publicado originalmente no site da Diaconia, Jesus denuncia e faz um convite a denunciar qualquer ato de injustiça. A Bispa enfatiza: “Sou Mulher de Coragem e denuncio. Com este discipulado de Cristo aprendemos que é preciso denunciar o que não condiz com o reino de Deus. No que diz respeito às mulheres, é preciso denunciar todo tipo de opressão que as alcance: moral, ética, religiosa, patrimonial, sexual, psicológica, ideológica, de gênero, cultural, teológica, etc. Motivadas por essa verdade que liberta, o Espírito Santo de Deus nos convida a essa ação bendita: ser mulher de coragem e denunciar. É em nome de Jesus Cristo que precisamos, mulheres e homens, dizer que não aceitamos nenhum ato que retire da mulher a sua condição de imagem e semelhança com Deus. Este século clama por vozes que reafirmem o propósito de Deus para com a vida humana. Quem se dispõe a ser profeta?”, finalizou a Bispa Marisa com a pergunta.


Mulheres da Remne em protesto durante a campanha nacional. | Arquivo EC

No mesmo sentido, a Bispa Hideide Brito Torres também publicou artigo no site da instituição não governamental - As parteiras do Egito: em defesa da mulher e da criança, expressando sua indignação da atual realidade das mulheres, adolescentes e crianças em nosso país. “A mulher continua sendo objeto de mercadorização; meninas sofrem sob anorexias e bulimias tentando responder às exigências de uma sociedade egoísta. Crianças são vendidas à beira de estradas em nosso país, de dentro de barcos para ricos visitantes nas comunidades ribeirinhas. O sexo se banaliza como comércio em nome de uma pretensa autonomia de corpos, sem que se discutam posturas éticas coerentes”, diz o texto da Bispa Hideide. Ela destaca em sua reflexão que é preciso comprometer-se: “Compromisso é essencial. Compromisso com a vida, com a atenção às coisas que podem fazer a diferença. Compromisso para denunciar, mobilizar, educar e transformar”. 

Palestras, estudos nas igrejas sobre o tema da violência contra a mulher, levar especialistas da área para discutir o assunto e mobilizações dos grupos societários também ajudam no processo de conscientização e são essenciais para orientar os membros da comunidade. 

A Confederação Metodista de Mulheres resolveu também entrar nessa briga e tem se mobilizado, juntamente com centenas de mulheres espalhadas pelo Brasil afora, vestindo-se de preto às quintas-feiras, em forma de protesto, dizendo não à violência contra a mulher. A ação já completou quatro anos. A presidente da Confederação, Ivana Aguiar Garcia, destaca as ações que são feitas. “Nosso trabalho em ações concretas tem se realizado através das Federações de cada Região, que tem reunido as Sociedades de Mulheres para um diálogo, palestras, debates e ainda, por várias vezes, foram às ruas em passeatas pacíficas e silenciosas com a finalidade de alertar a sociedade civil sobre este tema”, disse.

Para o pastor da Igreja Metodista em Fortaleza/CE, Ivan Martins, os membros acabam vivendo com a violência no dia a dia. “Por mais que as igrejas queiram se isolar, se omitir, elas estão inseridas no mesmo contexto social. Seus membros, sobretudo da periferia, convivem com a violência”, destacou o pastor que está cursando o mestrado em Educação na Universidade Federal do Ceará. 
O pastor destacou ainda a importância das igrejas não se omitirem. “As igrejas devem ainda ocupar os espaços públicos fundamentando seu discurso e prática à luz do Evangelho de Jesus de Nazaré; e se apropriando dos referenciais teóricos adequados ao tema da violência”, destacou o pastor.

Agressores

A ONU Mulheres Brasil destacou na pesquisa que a ação da violência está ligada diretamente aos parceiros e ex-parceiros das mulheres que são vitimizadas. “Os índices são muito próximos entre os relacionamentos antigos e atuais das mulheres em situação de violência, ou seja, 12% das mulheres apontam que o parceiro ou ex-parceiro (o mais recente), quando criança, soube das agressões físicas sofridas pela mãe; 85% deles presenciaram os atos de agressão pelo menos uma vez; 10% das entrevistadas reportaram que seus parceiros e ex-parceiros haviam sido agredidos por familiares pelo menos uma vez durante a infância. Em Aracaju, 16% das mulheres responderam que seus parceiros e ex-parceiros souberam ao menos uma vez das agressões sofridas pela mãe; 9% das entrevistadas reportaram que seus respectivos parceiros e ex-parceiros foram agredidos na infância por familiares – neste último indicador, a concentração é em Salvador (15%)”.


Mulheres da Remne em protesto durante a campanha nacional. | Arquivo EC

O Pastor Ivan Martins, da Igreja Metodista Central em Fortaleza/CE, ressaltou que não são somente as mulheres que estão sofrendo violência. “Vivemos nosso próprio terrorismo. São mais de 161 homicídios por dia. Aumentaram ainda as violências contra mulheres e homossexuais. Alguns estados são representativos dessa triste realidade (Sergipe, Alagoas e Ceará). O Ceará tomou os noticiários com a chacina de Cajazeiras; em 27 de janeiro foram vitimadas oito mulheres, seis homens, além de nove pessoas feridas”, finalizou o Pastor Ivan.

Serviço

No Brasil, existe um canal de atendimento para a mulher vítima de violência por meio do número telefônico 180, central telefônica para atendimento às vítimas criada pela Secretaria de Políticas para Mulheres (SPM). O serviço é gratuito e funciona 24 horas todos os dias, inclusive nos finais de semana. 

Por meio do Disque 180, a mulher receberá apoio e orientações sobre os próximos passos para resolver o problema. A denúncia é distribuída para uma entidade local, como a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) ou Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM), conforme o estado. 

Pr. José Geraldo Magalhães
Publicado originalmente no Jornal EC de março de 2018. Acesse aqui.


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