Publicado por José Geraldo Magalhães em Entrevista, Igreja e Sociedade, Conscientização, Pastoral - 02/04/2019 às 15:25:26
Ministério pastoral e seus cuidados
Na matéria de capa deste mês abordamos o cuidado que o/a pastor/a deve ter consigo mesmo/a. Isso para evitar a fadiga no ministério pastoral, além da depressão e suicídio, como já aconteceu várias vezes em diversas denominações.
Entrevistamos duas referências no assunto do cuidado pastoral, a Bispa Marisa de Freitas Ferreira, presidente da Região Missionária do Nordeste, que, além de exercer o ministério pastoral na função de Bispa da Igreja, também se formou em Medicina e sabe muito bem dos cuidados e prevenções que todos/as nós precisamos ter com nosso corpo. A outra pessoa é o missionário da Sepal Marcos Quaresma, que tem formação em Teologia e mestrado em Aconselhamento Pastoral. Esperamos que as duas entrevistas, somadas com a matéria de capa, possam contribuir com a vida e o ministério de muitos/as líderes religiosos/as em nosso país.
Expositor Cristão: Em sua percepção, quais são os motivos que levam os pastores à depressão e consequentemente ao suicídio?
Marcos Quaresma: Os motivos que levam uma pessoa à depressão não são totalmente conhecidos e talvez nunca sejam completamente. Estudos científicos sugerem que ela está ligada à perda de algo que a pessoa teve, como um grande amor, ou quando sai de uma posição social importante, como um bom emprego, por exemplo. De modo geral, entende-se que há fatores biológicos e sociais que, quando associados, podem culminar em uma depressão. Isso quer dizer que, grosso modo, se a predisposição genética encontra a situação adequada, ela se manifesta.
EC: Quais são os caminhos alternativos para não chegar ao suicídio? Terapias ajudam?
MQ: Os caminhos para que uma pessoa não se suicide são os caminhos da busca constante por uma vida saudável, equilibrada, envolvendo os aspectos físicos, sociais, psicológicos e espirituais. É fundamental cuidar do corpo, procurar boas amizades e se envolver em uma comunidade de fé na qual possa alimentar a espiritualidade. A psicoterapia pode ajudar a ver a vida e o mundo com os olhos da subjetividade, ou seja, com um olhar singular, particular. Para ver e viver assim, uma boa psicoterapia ajuda a pessoa a desenvolver a autonomia e ao mesmo tempo a flexibilidade diante das circunstâncias enfrentadas.
EC: Quais são os primeiros sinais que a liderança pastoral apresenta antes de cometer o suicídio? Por quê?
MQ: Não há muitas estatísticas sobre os primeiros sinais apresentados, pelo menos que eu saiba, mas pelo que li e os relatos que ouvi sobre pastores/as que se suicidaram, e de alguns/as que pensaram no assunto, três motivos estão mais evidentes:
Sensação de fracasso ministerial – Desde que a Igreja de Cristo se tornou uma instituição, seus/as pastores/as passaram a ser uma espécie de executivos/as que precisam gerir “o negócio” e entram em competição uns/as com os/as outros/as comparando os resultados da “empresa”. Como nem todos/as terão os mesmos números, quem fica para trás se sente envergonhado/a e fracassado/a e questiona a Deus: “Se estamos servindo ao Senhor, como meu ministério pode estar regredindo enquanto meu/a colega está prosperando?”;
Crise financeira – A maioria dos/as pastores/as que pensaram, tentaram e os/as que efetivamente se suicidaram estavam envolvidos/as em dívidas financeiras;
Crise familiar – Alguns/as dos/as que se suicidaram haviam se divorciado ou estavam vivendo uma forte crise conjugal. As crises ministeriais, financeiras e familiares podem levar um/a pastor/a a sair do seu ponto de equilíbrio emocional e pensar, tentar ou efetuar o suicídio.
Na vida de um/a pastor/a há três fatores que influenciam mais fortemente seu comportamento: sua fé, seus/as amigos/as e parentes e sua comunidade. Os valores de sua fé o/a estimulam a ser simples e humilde, seus/as amigos/as e parentes esperam que ele/a seja um sucesso profissional e sua comunidade espera que ele/a trabalhe duro, para ela crescer e todos/as se sentirem orgulhosos/as de fazer parte daquela grande e famosa igreja. O problema é que em geral essas três influências não conseguem se equilibrar, o que gera tensão e estresse no/a pastor/a. Quando esta situação chega ao limite, ele/a perde a esperança e o sentido de viver e prega seu “último sermão”.
EC: O senhor gostaria de apontar mais algum caminho?
MQ: Sem amigos/as, a vida é cinza. Pastores/as precisam de amigos/as, mesmo que sejam de fora da igreja. Nesta busca, a primeira qualidade desse/a amigo/a deve ser a inutilidade, ou seja, aquele/a amigo/a que não seja necessário um motivo para estar perto dele/a. Pessoas precisam de outras para nada, apenas para jogar conversa fora e dar risadas das coisas da vida.
Pr. José Geraldo Magalhães
Fonte: Jornal Expositor Cristão - edição de abril/2019