No final do s?culo XX, novos modelos familiares entraram na sociedade, por exemplo, filhos/as que n?o moram com os pais. No ?ltimo Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat?stica (IBGE), divulgado em 2010, foi inserida pela primeira vez na pesquisa a pergunta sobre a situa??o dos/as filhos/as no contexto familiar. A iniciativa foi para verificar se eles/as moram com os pais, um dos c?njuges ou respons?vel. Constatou-se que 16% do total das fam?lias brasileiras est?o no item que o IBGE classifica como ?fam?lias reconstitu?das?.
Uma das coordenadoras da pesquisa, Ana L?cia Saboia, alerta para essa nova classifica??o que mudou o cen?rio da fam?lia brasileira. ?At? ent?o, pela Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domic?lio) e pelo Censo, o Brasil era um mar de tranquilidade, todo mundo era casal com filhos/as, mas voc? n?o sabia filhos/as de quem eles/as eram. Essa informa??o mudou um pouco, tem a ver com o senso comum de que hoje h? um maior n?mero de div?rcios (veja na p?gina 10), as pessoas se juntam em configura?es que n?o s?o as tradicionais. Voc? ouve falar do casal: o/a meu/a filho/a, o/a seu/a filho/a e os/as nossos/as filhos/as?, explicou.
S?o 57 milh?es de unidades domiciliares, segundo o Censo, sendo que 50 milh?es tinham em suas resid?ncias duas ou mais pessoas. Cada lar brasileiro tem 3,3 moradores/as, em m?dia. Em 2000, esse n?mero era um pouco maior, chegando a 3,8 moradores/as por casa.
A pesquisa mostra como a sociedade est? organizada, sendo a fam?lia um dos seus principais eixos. O IBGE considera fam?lia como o grupo de pessoas ligadas por algum grau de parentesco que vivem debaixo do mesmo teto. O Instituto a classifica em tr?s tipos: unipessoal (pessoas que moram sozinhas) soma 12,1% do total; de duas pessoas ou mais com o mesmo grau de parentesco chega a 87,2% e de duas pessoas ou mais sem parentesco entre elas equivale a 0,7%. As fam?lias que t?m a mulher como respons?vel pela casa aumentou de 22,2% para 37,3% se comparado ao Censo anterior (2000).
Ainda prevalece o modelo de fam?lias nucleares, que s?o do tipo mais tradicional, ou monoparentais, que ? a m?e ou o pai com os/as filhos/as, que somam 80%. O IBGE divulgou tamb?m o n?mero de casais sem filhos/as, que passou de 14,9%, em 2001, para 20,2% no ?ltimo Censo. Segundo o Instituto, o motivo seria uma maior participa??o da mulher no mercado de trabalho, o que, de certa forma, adia a gravidez para um segundo momento na vida familiar.
Antigo Testamento
A fam?lia ? o n?cleo fundamental da sociedade, mas h? casos mencionados muito diferentes de nosso tempo. Agar, por exemplo, a escrava eg?pcia foi levada a ter um filho com Abra?o para que a promessa de Deus se cumprisse na vida do casal. ?Toma, pois a minha serva, e assim me edificarei com filhos por meio dela. E Abra?o se anuiu ao conselho de Sara? (Gn 16.1). Mais adiante, notamos que a escrava, que foi abusada sexualmente, ficou gr?vida (Gn 16.4). Sara, al?m de n?o ter sido edificada com o nascimento do filho de Agar, humilhou-a a tal ponto de Agar fugir da presen?a deles. O relato b?blico diz que Deus a encontrou junto a uma fonte no caminho de Sur, trajeto que ia at? o Egito, e ali o Senhor a confortou (Gn 16.11).
No Antigo Testamento, a fam?lia nuclear ? pai, m?e e filho/a ? n?o ? comum. A fam?lia de Jac? ? outro exemplo, pois o patriarca tinha duas esposas, Raquel e Lia, e seus doze filhos aos quais se acrescentavam algumas filhas e, com elas, duas escravas. Salom?o com suas 700 mulheres e 300 concubinas refor?am a ideia de que esse modelo familiar n?o cabe em nosso tempo.
Encontramos v?rias hist?rias de amor, como a de Rute e Boaz, ou textos que v?o al?m do relato, como o de Cantares de Salom?o, que est? repleto de poesias. Como ser? que Agar sentiu-se quando foi utilizada como ?barriga de aluguel?? Ou o que Sara pensou quando foi apresentada como irm? ao rei do Egito? As fam?lias eram consideradas como um Cl? ? uma ?fam?lia? maior. Pensava-se numa institui??o econ?mica e poderia ter escravos/as e assalariados/as que viviam na mesma aldeia. Chegavam a dezenas e at? centenas de pessoas numa mesma fam?lia.
Tudo isso nos faz pensar que a nova configura??o familiar do s?culo XXI passa por v?rias transforma?es, mas, como o Censo apontou, o modelo de fam?lia nuclear ainda permanece com 80% na pesquisa do IBGE.?Portanto, n?o se pode desconsiderar os valores crist?os daqueles/as filhos/as que s?o instru?dos/as sobre eles ainda quando crian?as (Pv 22.6). Certamente, na vida adulta, esses valores aprendidos na inf?ncia servir?o como balizas para discernir o que ? certo ou errado no contexto familiar.
A mulher como provedora do lar
O modelo patriarcal t?o presente no Antigo Testamento aos poucos est? desaparecendo. A ideia machista de que o homem precisa ser o provedor do lar est? passando lentamente por uma invers?o de pap?is. Ainda h? muito o que fazer, mas aos poucos nota-se que a mulher tem conquistado seu espa?o no mercado de trabalho.
Para o soci?logo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em S?o Paulo, Rog?rio Baptistini, a sociedade caminha para um equil?brio de pap?is do casal. ?Pode ser dif?cil para eles/as aceitarem, se adaptarem e se conformarem com essa nova situa??o, mas vamos caminhar para uma realidade cada vez mais igualit?ria?, afirma.
Na amostra da ?S?ntese de Indicadores Sociais? do IBGE, em rela??o aos casais sem filhos/as, houve um crescimento de quatro vezes se comparado aos ?ltimos dez anos. O ?ndice de chefia feminina passou de 4,5% para 18,3%; entre os que t?m filhos/as subiu de 3,4% para 18,4% no mesmo per?odo. J? a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domic?lio) apontou que 37,4% das fam?lias t?m como pessoa de refer?ncia a mulher.
A metodista carioca Sirlei da Silva Costa ? uma dessas pessoas que se viu obrigada a sustentar a casa depois que o marido abandonou o lar deixando-a com duas filhas pequenas. ?Quando meu marido saiu de casa percebi que precisava trabalhar para sustentar as crian?as. Arrumei um emprego, enquanto minha m?e cuidava delas. Depois que as coisas normalizaram entrei para a faculdade?, disse.
Hoje, a ex-dona de casa est? com as filhas crescidas. Mariana estuda economia e recorda muito bem das vezes que ficou com a av?. ?Me lembro de quando minha m?e dizia que iria voltar r?pido. Meu pai nunca voltou para saber como a gente estava, se est?vamos precisando de alguma coisa. Quem perdeu foi ele; hoje temos uma fam?lia linda?, concluiu Mariana.
Sirlei reconstruiu sua vida conjugal 12 anos depois da separa??o. Atualmente trabalha numa multinacional como analista financeira da institui??o.
Ado??o
Em 25 de maio ? celebrado o Dia Nacional da Ado??o. O tema no Brasil continua sendo um desafio imenso, como j? comprovado pelo Cadastro Nacional de Ado??o (CNA) e pelo Cadastro Nacional de Crian?as e Adolescentes Acolhidos (CNCA), administrados pelo Conselho Nacional de Justi?a (CNJ). Segundo dados do CNA, s?o mais de 5,6 mil crian?as que esperam por ado??o e quase 30 mil fam?lias na lista de espera. O Brasil conta com quase 50 mil crian?as e adolescentes que vivem nos abrigos espalhados pelo Brasil, segundo o CNCA. O n?mero quase dobrou se comparado a fevereiro do ano passado, que somava 37 mil.
O casal Edemir e Denise Rosa Viotto, que mora em S?o Bernardo do Campo/SP, ? um dos exemplos das pessoas que optaram pela ado??o. O filho Marcos Vinicius e a filha Ana Luiza foram adotados rec?m-nascidos com uma diferen?a de dois anos de um para o outro. O processo de ado??o foi r?pido. ?Fiz a inscri??o para ado??o e enviei os documentos solicitados. Imediatamente entrei para a fila de espera. Levou de tr?s a quatro meses para que o processo de ado??o fosse conclu?do?, disse Denise.
No hospital, os pais receberam a Certid?o de Nascimento com o nome da m?e biol?gica com outro documento ? o da Guarda Provis?ria. Logo, o processo de ado??o foi acontecendo normalmente.
Os pais contaram para o filho e a filha que eles eram adotados quando eram beb?s. ?Eles cresceram sabendo que n?s n?o ?ramos os pais biol?gicos?.?Denise contou emocionada sobre quando a filha Ana Luiza a abra?ou por tr?s dizendo que queria ter sa?do da barriga da m?e para ser igual a ela. A m?e n?o pensou duas vezes para responder: ?Se voc? tivesse sa?do de minha barriga n?o seria como voc? ?. Eu te amo assim, do jeito que voc? ?, finalizou.
Normalmente a lista na fila de espera ? bem maior do que o n?mero de crian?as aptas para ado??o. De acordo com o juiz Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, da Vara da Inf?ncia e Juventude do Foro Regional da Lapa, S?o Paulo, o motivo do descompasso ? claro: ?os futuros pais t?m um sonho adotivo com a crian?a que ir? constituir a fam?lia, e a maioria dos pais deseja rec?m-nascidos/as de pele clara?. Outros pais, por sua vez, desejam especificamente um beb? e n?o querem crian?as com mais de um ano. (Veja mais sobre ado??o).
Escrito por: Jos? Geraldo Magalh?es