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Depressão: 11,5 milhões de casos registrados no Brasil

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Sem deixar marcas aparentes e imposs?vel de ser diagnosticada por exames laboratoriais, a depress?o atinge cerca de 5,8% da popula??o brasileira ? um total de 11,5 milh?es de casos registrados no pa?s, segundo dados divulgados pela Organiza??o Mundial da Sa?de (OMS). Os n?meros s?o maiores na Am?rica Latina e o segundo maior nas Am?ricas, atr?s apenas dos Estados Unidos, que registram 5,9% da popula??o com o transtorno e um total de 17,4 milh?es de casos. Dist?rbios relacionados ? ansiedade chegam a afetar mais de 18,6 milh?es de brasileiros/as (9,3% da popula??o), aponta Relat?rio Global divulgado pela OMS em fevereiro.

A depress?o ? um transtorno mental comum caracterizada pela presen?a de tristeza, muitas vezes carrega um sentimento de culpa ou inutilidade, perda de interesse ou prazer, sono ou perda do apetite, falta de concentra??o e cansa?o. A doen?a pode chegar a tornar-se recorrente ou cr?nica e afetar significativamente o desempenho nos estudos e no trabalho, al?m da capacidade de lidar com situa?es do dia a dia, que ficam prejudicadas.

De acordo com a OMS, o n?mero de pessoas que vivem com depress?o aumenta a cada ano. Entre os anos de 2005 e 2015 chegou a atingir o ?ndice de 18,4%. O c?lculo revela que, atualmente, mais de 320 milh?es de pessoas no mundo, incluindo todas as idades, est?o com depress?o. O ?rg?o alertou que a doen?a ? a principal causa de incapacidade no trabalho das pessoas e, nos casos mais complexos, pode levar ao suic?dio.

Os dados mostram que, al?m do Brasil e dos Estados Unidos, pa?ses como Austr?lia, Ucr?nia e Est?nia ainda registram ?ndices altos de depress?o. S?o 5,9%, 6,3% e 5,9%, respectivamente. Nas popula?es com menores ?ndices est?o Ilhas Salom?o (2,9%) e Guatemala (3,7%). Segundo a OMS, a preval?ncia ? que na popula??o mundial o percentual chegue apenas a 4,4%.

Esses n?meros levaram a OMS a alertar a popula??o sobre os riscos da doen?a no dia Mundial da Sa?de, 7 de abril. Com o lema: Vamos conversar ou Let?s talk, em ingl?s, a iniciativa ir? refor?ar que existem formas de prevenir a depress?o e tamb?m de trat?-la, considerando que o transtorno pode levar a graves consequ?ncias.

?A depress?o ? diferente de flutua?es habituais de humor e respostas emocionais de curta dura??o aos desafios da vida cotidiana. Especialmente quando de longa dura??o e com intensidade moderada ou severa, a depress?o pode se tornar um s?rio problema de sa?de?, destacou a organiza??o em comunicado oficial.

Testemunho



A coordenadora do Departamento Nacional da Escola Dominical, pastora Andreia Fernandes de Oliveira, teve contato com a depress?o na d?cada de 1990. ?Na realidade a minha primeira crise depressiva foi em 1992, eu tinha 18 anos. No entanto, n?o foi diagnosticada com depress?o, e sim com uma crise de estresse forte. Sempre penso que o diagn?stico foi mais dif?cil porque eu n?o tinha hist?rico na fam?lia, pelo fato desta patologia n?o ser amplamente divulgada e tamb?m porque eu era muito jovem?, disse a pastora.

Quatro anos mais tarde chegou a confirma??o. ?Foi apenas em 1996 que recebi o diagn?stico correto e da? come?amos a conhecer e a conviver com esta doen?a, talvez seja melhor dizer, com este tabu?, disse.

Buscar o tratamento nem sempre ? f?cil como parece. Segundo a pastora Andreia, v?rios fatores, como a desinforma??o, a press?o social e religiosa e o estigma que a depress?o e outras doen?as psiqui?tricas carregam, colaboram muito para que, quem tem esta doen?a, tenha dificuldade de aceit?-la e, mais, de buscar tratamento adequado e perseverar neste tratamento. Dessa forma, as pessoas entram em um c?rculo vicioso, como destacou a pastora.

?Come?amos a tomar medica??o e, ao melhorar, paramos de tomar o rem?dio; logo ca?mos novamente em depress?o. Este processo foi recorrente na minha vida, mas gra?as a Deus, ? terapia, ? minha fam?lia, amigos e amigas e, tamb?m, gra?as ?s m?dicas e aos m?dicos competentes, venci este tabu. Faz um bom tempo, cerca de 10 anos, que uso medica??o regular. ? uma b?n??o, ? um instrumento de Deus para preservar a nossa vida e nos garantir vida abundante?, destacou.

Muitas pessoas j? tiveram a experi?ncia da cura, porque cada corpo responde aos medicamentos de uma forma, outras n?o, mas isso n?o pode ser um fator para apontar que uma pessoa tenha mais f? que outra. Uma m?dica respondeu aos questionamentos da Pastora Andreia ao perguntar: ?Por que eu??. A resposta foi dura, mas segundo a Pastora, foi ?libertador?. ?Por que n?o voc?? Depress?o, press?o alta, diabetes s?o doen?as humanas, n?o d?o em ?rvores?, relatou Andreia. ?Digo que n?o foi confort?vel escutar aquilo, mas foi libertador. Hoje tenho consci?ncia de que convivo com essa doen?a, tenho a certeza de que ela n?o ? possess?o demon?aca e desfruto da Gra?a de Deus, que me d? condi?es de superar as crises que surgem no caminho; testemunhar o seu amor e aceitar as minhas fragilidades talvez sejam a melhor cura que eu poderia ter recebido?, finalizou.

Opini?o dos/as especialistas

Engana-se quem acha que depress?o atinge somente pessoas adultas. A psic?loga e presidente da ONG Pequeno Cidad?o, Valqu?ria Moraes, destaca que crian?as e adolescentes tamb?m sofrem de depress?o. ?Depress?o ? um transtorno de humor que afeta tanto crian?as como adultos/as. Na fase da adolesc?ncia a depress?o muitas vezes ? confundida com mudan?as comportamentais naturais da idade, dificultando o seu diagn?stico. As causas s?o diversas e podemos destacar algumas: baixa autoestima, fracasso escolar, morte de um/a parente pr?ximo/a ou amigo/a, instabilidade emocional para enfrentar um conflito, influ?ncia dos horm?nios, n?o estar inclu?do/a no grupo de amigos/as, crian?as e adolescentes com elevada autocr?tica e hist?rico de depress?o na fam?lia?, pontuou Valqu?ria, lembrando que a OMS afirma que a depress?o atinge 5% de crian?as e 12% dos/as adolescentes entre 11 e 19 anos.

2017_04_depressao_sintomasA fam?lia continua sendo a base para superar esse tipo de doen?a. A psic?loga destacou alguns sinais vis?veis em crian?as ou adolescentes que podem estar com depress?o. ?Mudan?as de comportamento e sentimentos exagerados durante a adolesc?ncia s?o normais, mas ficar atento aos sintomas ? importante. Se voc? perceber que a crian?a apresenta estes sintomas durante mais de duas semanas ? indicada a procura de um especialista?, disse Valqu?ria.

Entre os sinais apresentados em uma crian?a ou adolescente est?o: ?Queda brusca no rendimento escolar; explos?o constante de raiva, discuss?es sem motivo, instabilidade emocional (n?o esque?a que casos isolados desses comportamentos s?o normais na adolesc?ncia), agita??o ou apatia exagerada, isolamento, perda do interesse por atividades que antes eram agrad?veis, altera?es do sono e do apetite, falta de energia e cansa?o para realizar as atividades rotineiras, tristeza e desesperan?a desproporcionais, ideias suicidas e perda da capacidade de se divertir?, alertou a psic?loga Valqu?ria Moraes.

Os dados da OMS mostram que quase 800 mil pessoas morrem em raz?o de suic?dios todos os anos, a segunda principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Uma pesquisa da organiza??o tamb?m alertou que, apesar da exist?ncia de tratamentos efetivos para a doen??a, menos da metade das pessoas afetadas pela condi??o no mundo ? e, em alguns pa?ses, menos de 10% dos casos ? recebe ajuda m?dica. As barreiras incluem falta de recursos, falta de profissionais capacitados/as e o estigma social associado a transtornos mentais, al?m de falhas no diagn?stico.

Para a pastora metodista e professora da Faculdade de Teo?logia, Blanches de Paula, que defendeu seu doutorado, em 2009, ?Corpos Enlutados: por um acompanhamento espiritual terap?utico em situa?es de luto?, a perda de uma pessoa pr?xima, seja da fam?lia ou n?o, pode desencadear um quadro depressivo no processo de luto. ?Para fazer a preven??o dessa situa??o, ? necess?rio observar se o quadro de tristeza come?a a mudar para um estado depressivo, ou seja, a pessoa n?o sente que h? mais ?energia? para enfrentar os desafios da vida e, gradativamente, vai se isolando de suas tarefas e do cotidiano. Quando esse quadro se alarga, ? indispens?vel procurar ajuda no aconselhamento pastoral, psicol?gico e at? m?dico?, disse ao enfatizar a import?ncia de dar um suporte pastoral para a fam?lia enlutada?, finalizou Blanches, que tamb?m ? psic?loga.

O professor de Teologia e Cuidado Pastoral Ronaldo Sathler destacou que a depress?o ? consequ?ncia de fatores culturais e pessoais. ?Fatores culturais s?o situa?es sociais, como pobreza, guerras, viol?ncias, enfermidades e tantas outras que tornam a vida triste e dif?cil de ser encarada. Medos, inseguran?as, mal-estar s?o alguns dos sintomas. Fatores pessoais s?o ligados tanto ? sa?de f?sica como ? sa?de de relacionamentos, entre outros. Problemas familiares, quest?es que causam preocupa??o excessiva podem levar ? depress?o?, disse.

Para o professor Ronaldo, o corpo pastoral tamb?m precisa de cuidados. ?Pastores e pastoras devem ter um/a especialista por perto, seja ele/a um/a tutor/a, psicoterapeuta, supervisor/a did?tico-pastoral, m?dico/a, a quem possam relatar seus sintomas e, em conjunto, encontrar um encaminhamento mais apropriado. Em algumas ocorr?ncias pode ser que o/a pastor/a tenha que aprender a conviver com os altos e baixos de seu ?espinho na carne?, ou seja, h? enfermidades incur?veis do ponto de vista humano, sem negar a possibilidade da atua??o da Gra?a Divina?, finalizou.

Conversar abertamente sobre depress?o ? o primeiro passo para entender melhor o assunto e reduzir o estigma associado ? doen?a. Assim, cada vez mais pessoas poder?o procurar ajuda. Confira no quadro da p?gina anterior mais informa?es sobre depress?o.

Jos? Geraldo Magalh?es

Publicado originalmente no Jornal Expositor Crist?o impresso de abril/2017

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