A filosofia ocidental na Gr?cia do s?culo VII a.C. foi marcada, essencialmente, pelas preocupa?es f?sicas e cosmol?gicas, ou seja, pela busca do conhecimento do mundo natural, sua origem e constitui??o. Antes disso, todo conhecimento do mundo era dado pela interpreta??o m?tica, mediante o apelo ao sobrenatural, ao divino e ao misterioso. Assim, o fil?sofo distingue-se do homem m?tico, pois suas explica?es do universo est?o estruturadas em argumentos racionais e n?o em intui?es sobrenaturais ou numa racionalidade pr?-reflexiva. Aqui, f? (mito) e ci?ncia (raz?o) aparecem, pela primeira vez, como temas distintos.
Essa distin??o ? mantida at? Plat?o, que faz uma releitura do mito, dando-lhe o status de uma f? racionalizada: quando a raz?o encontra seus limites, cabe ao mito proporcionar, por meio de suas alegorias, dimens?o e imagens, a supera??o dessas limita?es. Na an?lise do Mito da Caverna, em A Rep?blica, Plat?o, por alegoria, estabelece que as ess?ncias eternas e imut?veis das coisas, as ideias, s?o identificadas com a episteme (ci?ncia). Mesmo Arist?teles, conhecido como um fil?sofo realista, conclui a mesma coisa em sua filosofia metaf?sica, entendida como a ci?ncia do ser como ser, ao identificar Deus como Causa Primeira, Ato Puro ou Primeiro Motor. Essa reflex?o trata de aproximar novamente a f? e a raz?o.
Com o dom?nio da Igreja Crist? no per?odo medieval, a raz?o ? colocada como serva da f?. A heran?a da filosofia grega foi largamente utilizada para dar sustenta??o racional ? tradi??o crist? e ? interpreta??o da B?blia. Agostinho de Hipona, expoente da Patr?stica, e Tom?s de Aquino, o maior pensador da Escol?stica, afirmaram que a raz?o complementa a f?, no sentido de provar as verdades b?blicas. Com Tom?s de Aquino, o pensamento crist?o conheceu o grande poder da raz?o em toda a sua extens?o, como ponto de converg?ncia de tudo o que j? havia sido produzido em termos de s?ntese entre raz?o e f?: a realidade sens?vel demonstra as mesmas verdades b?blicas.
O per?odo Moderno, marcado pelo racionalismo cartesiano e pelo empirismo ingl?s, foi uma rea??o radical ? filosofia medieval, promulgando a autonomia da raz?o em face da f?. Com Galileu, a formula??o do saber da Ci?ncia deixa de ser metaf?sica para assumir um procedimento espec?fico (indutivo), experimental e quantitativo. A Ci?ncia moderna interv?m na natureza para transform?-la em benef?cio do homem. A f? ? relegada novamente ? concep??o m?tica, entendida como um estado primitivo da sociedade, sem qualquer import?ncia para os novos rumos da raz?o cient?fica.
No entanto, outra reviravolta acontece. As promessas da Ci?ncia Moderna, de autonomia da raz?o e progresso da humanidade, esbarraram nas aporias das teorias cient?ficas. Quanto mais a Ci?ncia avan?ava, mais surgiam d?vidas e problemas n?o resolvidos por suas teorias. Isso fez ressurgir a filosofia, como Filosofia da Ci?ncia, como disciplina que pergunta pelos fundamentos e processos epistemol?gicos da pr?pria Ci?ncia.
Karl Popper concluiu que o m?ximo que a Ci?ncia podia afirmar ? a refutabilidade ou falseamento de uma teoria e n?o o seu status de verdade. J? Tomas Kuhn, em seu livro Estruturas da Revolu??o Cient?fica (1962), postulou que a Ci?ncia se desenvolve durante certo tempo, a partir de uma aceita??o de tese, pressupostos e categorias (Ci?ncia Normal). Depois abre caminho para outras teses, um novo tipo de desenvolvimento cient?fico (Ci?ncia Extraordin?ria). Em suma, Kuhn identifica a Ci?ncia como o estabelecimento de um paradigma: ? o que os membros de uma comunidade cient?fica compartilham, assumindo a cren?a de que essa teoria tem o status de validade. Mais uma vez, F? e Ci?ncia se aproximam.
Posto isso, temos duas possibilidades ? vista: continuar promovendo um di?logo entre f? e raz?o, entendendo-as como duas formas epistemol?gicas da busca humana pelo conhecimento ou escolher manter a dicotomia entre ambas, optando por uma. O certo ? que f? e ci?n?cia sempre estar?o em pauta na busca de uma epistemologia do mundo e do ser.
Pr. Ot?vio J?lio Torres |?Igreja Metodista em Cataguases/MG – 4? Regi?o |?Mestre em B?blia e Licenciatura Plena em Filosofia pela Umes