
Em outubro os/as brasileiros/as v?o ?s urnas mais uma vez para exercer o papel de cidad?os/?s, para escolher os/as candidatos/as municipais. Os/as eleitores/as v?o escolher atrav?s do voto e dentro de seus pr?prios munic?pios um/a prefeito/a e um/a vice-prefeito/a, assim como os/as vereadores/as que v?o integrar as C?maras Legislativas Municipais. O primeiro turno das Elei?es 2016 ser? no dia 2 de outubro, e o segundo turno no dia 30 de outubro.
O Col?gio Episcopal da Igreja Metodista sempre orientou seus membros em per?odos eleitorais. A exemplo disso, temos as v?rias cartas pastorais publicadas no site nacional da institui??o. Para este ano tamb?m n?o ser? diferente. Na palavra episcopal desta edi??o, o Bispo Jo?o Carlos Lopes traz uma reflex?o nesse sentido, ao dizer que ?o ser humano ? inerentemente pol?tico? e que ?o chamado de Jesus para os/as seus/suas disc?pulos/as de ser sal da terra e luz do mundo cobre todos os aspectos da vida, inclusive o que diz respeito ao nosso relacionamento com o governo?.
Certamente todos esses pronunciamentos s?o pertinentes para o povo metodista que, diante de modestas articula?es pol?ticas de cidadania em nosso pa?s, tanto o Estado como a Igreja t?m uma inquieta??o comum. No patamar pol?tico e eclesial (aqui se inclui todas as igrejas), ambos poderiam dar uma contribui??o maior para o povo brasileiro. No entanto, nessa ?poca de elei??o, temos novamente em debate o papel das igrejas na pol?tica.
No caso da Igreja Metodista, os documentos e Cartas Pastorais n?o deixam d?vidas: ?No contexto das cidades exige um envolvimento da comunidade de f? nos organismos da sociedade civil. Agindo assim, seguiremos o exemplo da Igreja Primitiva que, como resultado de sua presen?a ben?fica na cidade, caminhava ?contando com a simpatia de todo o povo?? (conf. Carta Pastoral Elei?es de 2012).
H? de se ressaltar os descr?ditos dos/as representantes que o povo acaba elegendo para exercer cargos no governo, pois, em tempos de corrup??o e de opera?es lava-jato da Pol?cia Federal, se passar uma peneira fina em muitos partidos, me arriscaria a dizer que poucos/as s?o aqueles/as que sair?o ilesos/as. Os chamados protestantes t?m sem seu papel junto ? sociedade, principalmente quando se trata do processo de escolhas dos/as candidatos/as para as elei?es municipais, dada a grande influ?ncia da institui??o junto ? popula??o. Mas a verdadeira quest?o a ser colocada n?o se restringe ao per?odo das elei?es, nem se limita ? pol?tica partid?ria. A quest?o vai al?m, pois a Igreja Metodista no Brasil, sobretudo pela sua express?o ativa nas causas sociais e libertadoras, conhece de perto a realidade da classe sofredora, pobre e daqueles/as que vivem ? margem de uma sociedade, muitas das vezes, excludente.
A hist?ria mostra que Igreja e Estado sempre caminharam ali, lado a lado. Portanto, h? espa?os na esfera p?blica da sociedade para se ocupar, fazer a diferen?a. Jesus, em sua trajet?ria aqui na terra, procurou ocupar os espa?os p?blicos junto ao povo, os espa?os particulares quando esteve nas casas e o espa?o religioso quando ensinou na sinagoga ou no templo. No entanto, n?o deixou tamb?m de ensinar: ?Dai a C?sar o que ? de C?sar, e a Deus o que ? de Deus?.
O fato de a Igreja Metodista n?o se constituir ou se filiar a algum partido n?o significa dizer que ela n?o tenha uma vis?o pol?tica. Pois fazer pol?tica ? muito mais que participar ou apoiar um/a candidato/a, seja ele/a de que partido for. O exato significado da palavra pol?tica engloba um campo vasto da cidadania, onde se torna poss?vel uma a??o mais diversificada e indispens?vel para cimentar as articula?es b?sicas que resultem na complicada din?mica de fazer pol?tica.
A Igreja Metodista, sempre buscou atuar ao lado daqueles/as que s?o oprimidos/as, que sofrem pelo amplo desequil?brio e desigualdade social. O que n?o deveria ser diferente, j? que as miss?es evang?licas que chegaram ao Brasil nas primeiras d?cadas do s?culo XX partiram, principalmente, de grupos profundamente ancorados no Sul dos Estados Unidos com essa vis?o.
Tradi??o
A tradi??o protestante cont?m, em seu interior, uma impressionante pr?tica revolucion?ria. Vemos isso desde Thomas M?ntzer (seguidor de Lutero), reformador l?der da revolta dos camponeses, no s?culo XVI, contra a opress?o pelos pr?ncipes alem?es. Sobre esse assunto, Ernst Bloch escreveu o livro: ?Thomas M?ntzer, Te?logo da Revolu??o?. As ideias de M?ntzer atrelaram pol?tica e religi?o, em um per?odo em que o feudalismo se encontrava completamente desestruturado na Europa ocidental.
De acordo com a obra de Friedrich Engels, ?As guerras camponesas na Alemanha? (1974), M?ntzer considerava como ess?ncia do cristianismo a humildade, igualdade, solidariedade e divis?o dos bens. A cr?tica de M?ntzer era ? nobreza, a classe social mais poderosa de sua ?poca.
Lembremos tamb?m como uma parcela expressiva da sociedade americana lutou contra a discrimina??o e pela desobedi?ncia civil nos EUA. L?deres protestantes, como Martin Luther King Jr., lutou n?o apenas pelo fim da discrimina??o contra os/as negros/as, mas, sobretudo, contra a desigualdade econ?mica instalada no pa?s e contra a Guerra do Vietn?. Ele tinha uma clara compreens?o de que se tratava de uma guerra imperialista. Ele tomou partido dos/as vietnamitas a tal ponto de defender a reforma agr?ria no Vietn? do Norte.
? de Martin Luther King a express?o de que h? algo errado com o sistema capitalista. ?Deveria haver uma melhor distribui??o de recurso e talvez a Am?rica deveria ir em dire??o ao socialismo democr?tico?. Talvez, em um tempo em que outra parcela de protestantes ligados/as ?s igrejas abrace as ?causas pol?ticas? em busca de uma elei??o, vale relembrar que a tradi??o protestante foi um dos grandes legados deixados pelos/as antecessores/as que lutaram para reformar a sociedade.
Escrito por Jos? Geraldo Magalh?es | Editor-chefe
Publicado originalmente no Expositor Crist?o de setembro | Acesse?e fa?a download gratuito