Publicado por Redação em Notícias, Igreja e Sociedade, Missão - 08/08/2018 às 15:21:19

Uma Igreja além do Templo

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Foto: Na 4ª Região Eclesiástica, o Pastor Hudson percorre 35 km semanalmente para atender famílias que se reúnem nas casas. | Arquivo pessoal Hudson Carvalho.

A Igreja de casa em casa foi um dos ensinamentos de Jesus.

Em uma pesquisa rápida no site de busca do Google, a frase “igreja nos lares” aparece 1,38 milhão de vezes. Já “igreja nas casas”, a pesquisa trouxe 5,3 milhões de resultados. A metodologia de anunciar o evangelho de casa em casa tem base nas escrituras sagradas. Muito mais que um ensinamento, é um mandamento de Jesus. Ao enviar seus apóstolos para pregar, Jesus fez a seguinte recomendação: “Em qualquer cidade ou povoado em que entrardes, procurai alguém digno de vos receber; ficai nesta casa até vos retirardes. E, quando entrardes na casa, saudai-a com a paz”.

No início da Igreja Primitiva, no século I, o evangelista Lucas chegou a narrar no livro de Atos dos Apóstolos essa prática de reunir nas casas. “Partiam o pão em suas casas e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus por tudo e sendo estimados por todo o povo. E, assim, a cada dia o Senhor juntava à comunidade as pessoas que iam sendo salvas” (At 2.46-47).

Um pouco antes desse mandamento de Jesus e da narração de Lucas, o povo de Deus se reunia no tabernáculo para acompanhar a caminhada dos/as israelitas pelo deserto, após o povo ter entrado na terra prometida. Para citar alguns lugares, o tabernáculo esteve em Betel, Gilgal, Siló e, finalmente, em Gibeom. Anos depois, ele foi substituído pelo templo de Salomão em Jerusalém. A partir daí, os/as cristãos/ãs enxergam o templo como lugar de adoração, tanto que no encontro de Jesus com a mulher samaritana no poço de Jacó (Jo 4), Jesus a questiona sobre o verdadeiro lugar de adoração. 

O Bispo João Carlos Lopes, presidente da 6ª Região Eclesiástica, lembra na Palavra Episcopal desta edição (pág. 3) uma das ênfases missionárias da Igreja Metodista, que é “estimular o zelo evangelizador na vida de cada metodista, de cada igreja local”. O bispo inicia a reflexão com alguns questionamentos e destaca: “o evangelho precisa ser prioridade na nossa vida hoje e todos os dias”, disse apontando três pontos de partida para essa prática.

O historiador e Pastor João A. de Souza Filho deixa claro que era comum a Igreja se reunir nas casas. “Por mais de 300 anos, desde seu início até a época de Constantino, a Igreja reunia-se em casas sem precisar de um local chamado de templo ou santuário. As casas eram adaptadas para a reunião da família de Deus. Há grande dificuldade de investigar mais sobre a igreja peregrina ou subterrânea porque esses grupos foram quase sempre perseguidos pela Igreja institucional, geralmente ligada ao poder do Estado, o que resultou na destruição da maioria dos documentos históricos”, destacou Souza.

Pequenos grupos

Um termo muito comum usado na Igreja Metodista nos tempos atuais são os pequenos grupos. Na verdade, essa prática é bem antiga, anterior a John Wesley, inclusive. Os Albigenses, Cátaros e Valdenses eram grupos que se encontravam nas casas espalhadas pelo norte da Espanha, sul da França, vales alpinos e norte da Itália (Piemonte). 
Mesmo que exista mais registros históricos dos Valdenses a partir do século 12, o historiador João A. Souza destaca as reuniões nas casas. “Há várias evidências de que todos eles se consideravam uma continuação histórica dos/as cristãos/ãs dos primeiros séculos. De fato, é certo que, desde os tempos de Constantino, havia pequenos grupos de crentes em várias regiões da Europa ocidental desvinculados/as da cristandade organizada”, finalizou.

Umas das principais características desses grupos eram a simplicidade e o desinteresse pelos bens materiais. Alguns/as eram pregadores/as itinerantes e chegavam a intimidar os/as líderes da igreja institucional com o poder de unção e convicção que havia em suas pregações.

No contexto wesleyano (século 18), foi na Universidade de Oxford que o Rev. John Wesley iniciou os estudos das escrituras em pequenos grupos, além de reunir nas casas como resultado da influência dos valdenses, de Wycliffe e seus/as seguidores/as. Durante o avivamento de Wesley e Whitefield, as reu­   niões em casas eram chamadas de bands (sociedades). Além das reuniões regulares aos domingos, os/as cristãos/ãs reuniam-se em grupos pequenos para acompanhar o crescimento espiritual e encorajar a confissão de pecados e a prática de uma disciplina saudável na vida de cada irmão/ã.

Os/as Anabatistas (século 16) mantinham-se fora da Igreja Romana e das instituições protestantes durante as fortes turbulências religiosas e políticas da época da Reforma. As casas novamente eram lugar de abrigo, refúgio e partilha, enquanto eram perseguidos/as por luteranos/as e zwinglianos/as. Dessa forma, a Igreja baseada no convívio familiar mantinha acesa a chama da simplicidade e do amor. 

É comum os/as pastores/as atuais mudarem as nomenclaturas. Muitos/as usam pequenos grupos, outros/as chamam as reuniões nas casas de células. Na cidade de Além Paraíba/MG, por exemplo, há 30 células. Ângelo Henrique F. Fantanin é líder de uma delas. “Temos adotado esse método e temos visto o resultado. Jovens, adolescentes e adultos/as têm assumido essa identidade de discipular vidas e abrem suas casas para as reuniões. A experiência tem sido surpreendente para a vida da comunidade”, disse Ângelo. 

A Igreja de Além Paraíba está com 30 células ativas nos diversos bairros da cidade e em localidades onde possui pontos Missionários e Congregações (Estrela D’alva, Volta Grande, Caiapó, Jamapará e Influência), mas, segundo o missionário designado, Reynaldo Teixeira Júnior, o alvo é bem maior. “Queremos alcançar 3 mil discípulos e discípulas com a visão de multiplicação de liderança. Essas células estão nas escolas, em escritórios, nas praças, academia de Jiu-Jitsu, faculdades e periferias, onde nos deparamos com situações de extrema fragilidade e problemas sociais”, destacou. Cada casa é alcançada, dessa forma cada indivíduo é envolvido e a igreja sai das quatro paredes e alcança a cidade.


A Igreja Metodista em Além Paraíba tem em seu bojo projetos de Plantação de Igrejas nas cidades mineiras circunvizinhas, como Mar de Espanha, Maripá, Aventureiro, Senador Cortes, Fernando Lobo e Marinópolis


O educador social e pastor na Região Missionária do Nordeste (Remne), Ricardo Pereira da Silva, acredita nessa metodologia da Igreja de casa em casa. “Temos adotado a prática de cada metodista, um/a missionário/a; cada lar, uma igreja. Sendo uma igreja que adota o espaço familiar como principal campo missionário (dados estatísticos regionais apontam que foi exatamente nos lares que o trabalho da Remne começou em grande parte da Região), faz-se necessário recuperar a prática discipuladora nos lares como espaço da intervenção graciosa de Deus”, ressaltou o pastor.


Na 4ª Região Eclesiástica, o projeto de Plantação de Igrejas segue pelo sul de Minas e em Aracruz/ES. O Pastor da cidade de Varginha/MG, Hudson Q. de Carvalho, orou para expandir o evangelho nas cidades vizinhas. “Desde quando cheguei a Varginha que tenho orado a Deus para alcançar cidades vizinhas. Três Corações é uma delas”, disse o Pastor Hudson.

Quando uma família da Igreja de Varginha mudou-se para Três Corações/MG, Hudson viu ali a oportunidade de iniciar as reuniões nas casas. Ele visitou a cidade em busca de mais famílias metodistas. “Para nossa surpresa, encontramos duas famílias, uma da Igreja Metodista em Nilópolis/RJ e outra de Leopoldina/MG, ambas não estavam congregando como membros em nenhuma igreja”, contou.

Em março deste ano, o pastor começou a se deslocar de Varginha até Três Corações (35 quilômetros) para os encontros dos/as irmãos/ãs, que acontecem na casa de uma das famílias. “Completamos quatro meses de comunhão, oração e estudo da Palavra de Deus. Nos vemos como a Igreja primitiva que se reunia de casa em casa, isso alegra nosso coração. Hoje somos em nove adultos e quatro crianças. Temos perspectiva de continuarmos dentro dessa visão”, finalizou o Pastor Hudson.

Desde 2015, a 3ª Região Eclesiástica vem trabalhando a questão da plantação de novas Igrejas. O tema já foi discutido em vários níveis e com várias lideranças. Tanto assim, que foi incluído no Plano Regional de Ação Missionária, aprovado no Concílio Regional realizado em 2015, quando ficou estabelecido que a Região plantará 20 novas Igrejas num período de cinco anos. 

Para atender a essa diretriz, a 3ª Região lançou o Projeto de Plantação de Igrejas, a ser desenvolvido no período 2017-2021. No site Regional, o projeto da Câmara de Expansão Missionária Plantar ganha destaque. Os próximos Alvos regionais são Bragança Paulista/SP e Caçapava/SP, sendo 162,4 mil e 91,3 mil habitantes respectivamente. O site informa que 12 candidatos/as se inscreveram no edital.

Outros projetos semelhantes acontecem nas outras Regiões Eclesiásticas e Missionárias para seguir as diretrizes do Concílio Geral, que apontou a presença da Igreja Metodista em cidades com mais de cem mil habitantes. 

Pr. José Geraldo Magalhães
Publicado originalmente na edição de agosto de 2018 do Jornal Expositor Cristão impresso


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