Publicado por Redação em Notícia, Entrevista, Banner, Linha Editorial - 31/10/2016 às 16:11:10

O último dia do Outubro Rosa e o testemunho de Luzia

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Hoje se encerra em todo país a campanha Outubro Rosa, acompanhada pela Igreja Metodista e pelo Jornal Expositor Cristão, que trouxe manifestações de apoio e mobilização que aconteceram durante o mês. Leia todas as matérias aqui.

Queremos celebrar também o aniversário de recomeço da metodista que compartilhou o seu testemunho com esse jornal. Hoje, fazem 28 anos que Luzia Alves Evangelista vive livre do câncer de mama. Conheça o processo de tratamento, fé e cura vivido por ela, que é membro na Igreja de Vila Planalto, São Bernardo do Campo, SP.

Luzia, 61, chegou até a redação do Expositor Cristão com uma história de fé e superação vivida em uma época onde a conscientização ainda estava começando e em um período onde a palavra “câncer” mal podia ser pronunciada, para evitar a “má sorte”.

Em 1988, com 33 anos, três filhos pequenos e um marido empreendendo fora da cidade, Luzia mal tinha tempo para realizar os exames pedidos por sua médica quando encontrou dois grandes nódulos abaixo da axila. “Foi um pouco de descuido meu também. A médica tinha pedido exames que não fiz por conta dos meus muitos afazeres. A gente que é mãe pensa muito mais nas crianças do que em nós”, explicou. Com medo do pior, Luzia cedeu e voltou em sua médica, Dra. Hilda Tiê Kageyama. “Está preocupante, vamos correr”, falou a Dra. Hilda após realizar um rápido exame “Pode ser um Câncer de Mama”, adiantou.

Após os primeiros exames a doutora tentou ministrar alguns remédios, mas logo depois pediu a internação para realizar biopsia que confirmou o temido “maligno” no tumor carregado por Luzia. “Ela viu que tinha que fazer a cirurgia para retirar tudo. Mastectomia radical. Continuei no hospital e depois já comecei a radioterapia e a quimioterapia. Eu ia, ficava deitada quatro horas e depois voltava de moto, até meio tonta”, conta ao lembrar do risco que corria. O tratamento todo levou seis meses e apesar da gravidade, depois desse período, Luzia ficou totalmente livre do problema e atribui tanto a velocidade da conclusão do tratamento quanto a superação da doença, à fé. “Fui internada um dia antes do procedimento e eu estava sempre muito tranquila, muito bem. Quando eu estava deitada sentia umas luzes, sentia tanta paz. Eu acredito que era o sinal da cura”.

Você confere abaixo a entrevista completa com Luzia, que ainda autorizou o uso de suas fotos na intenção de fortalecer mulheres que passam pela mesma situação. "Temos que mostrar que apesar de não ter peito, faço tudo o que as outras pessoas fazem", afirma!

 

 


 


 

Quando descobriu o câncer?

Foi um pouco de descuido meu. A médica tinha pedido exames que não fiz por conta dos meus muitos afazeres, incluindo três crianças pequenas. A gente que é mãe pensa muito nas crianças. Certo dia apareceram dois nódulos abaixo da axila, no seio que era menor que o outro. Por causa dos nódulos fui na médica. Ela já me disse “Está preocupante. Vamos correr!”,  logo depois de examinar a situação, explicou que podia ser um câncer de mama. Ela disse que primeiro teríamos que fazer os exames e tentou um remédio oral e depois me internou para tirar os nódulos para serem estudados. Biopsia. Viu que precisaria fazer a cirurgia para retirar tudo. Mastectomia radical. Então continuei no hospital e depois já comecei a radioterapia e a quimioterapia. Eu ia, ficava deitada quatro horas e depois voltava de moto, até meio tonta. Não aconselho. O tratamento é considerada uma coisa grave, mas em seis meses tudo já tinha acabado.

Como a sua família reagiu?

A família ficava muito preocupada. Ninguém tinha visto isso e nem se falava muito sobre câncer. Enquanto não é com você, mesmo que seja com alguém próximo, você não enxerga. Meu esposo sofreu bastante, achou que ia ficar viúvo com três crianças pequenas. A família chorava e pensava que eu ia morrer. A cura tem muito haver com muito carinho e cuidado. Tive que me empenhar muito e pegar ônibus com o braço sem nem poder esticar. Apesar de nossa família ter muitas crianças, durante o processo todo mundo fez de tudo para me ajudar. Lavavam roupa, ajudavam com meus filhos e nos afazeres. É importante demais! Acho importante também não fazer tudo para pessoa, buscar equilíbrio. Outro dia vi um frase “não se preocupe, se ocupe”. A nossa mente que manda e isso tem haver com a fé. Minha médica ficava super feliz comigo por eu ser super positiva. Ela ficava contente também porque eu fazia o que ela mandava. Tudo mesmo, até ir no shopping para ver os presépios. A doutora ficou contente comigo pois fiz minha parte. Não pode se isolar.

A sua filha sofreu um acidente durante o seu tratamento. Como isso interferiu no seu emocional?

Tenho um irmão que é maravilhoso. Uma vez ele me levou para a radioterapia com quatro crianças, três minhas. Minha menina soltou da mão dele sem avisar, correu para rua e foi atropelada por uma ambulância. Não foi culpa dele. Ela quebrou o fêmur com 5 anos de idade e precisou ficar 15 dias no hospital. O osso colou errado e ela teve que fazer mais uma cirurgia. Encheram ela de armações e eu imaginava “como vou cuidar disso agora?”. Não chorava por mim, mas pelo filho a gente chora. Até a minha médica chorou comigo, teve pena de mim e falava “é muito para você”. Hilda Tiê Kageyama é o nome dela. Foi uma mãe. No dia do acidente minha filha foi levada para o pronto socorro pela própria ambulância que a atropelou. Fomos para o hospital do Heliópolis. Quando o meu marido contou a história para minha médica, ela largou tudo o que estava fazendo e me ajudou a internar minha filha em São Bernardo do Campo. Eu nunca tinha deixado nenhum filho no hospital. Fiquei sentada no corredor, já era tarde da noite e eu não ia embora. A Dra. Hilda me mandava ir para casa pois eu tinha acabado de fazer um procedimento e podia pegar uma infecção. Eu falava que iria ficar, até que em um momento ela veio até mi, me alertou novamente sobre a infecção e começou a chorar, dizendo que cuidaria da minha filha. Choramos juntas. Eu tenho que agradecer minha médica e o José Alves, meu irmão mais velho. Não tem pessoa melhor que ele. Nesse tratamento ele ajudou muito. Ele nem pode se sentir culpado com o caso da minha filha, pois tem que entender que se aconteceu com ele, é porque ele estava lá para me ajudar, assim como meu irmão Luiz também, que dormia comigo no hospital.


 

A sua igreja esteve presente durante seu tratamento e o acidente da sua filha?

Eu lembro que era tudo muito corrido. Lembro de receber uma visita do pastor Silas com a Sociedade de Mulheres. Não lembro ao certo se era visita para mim ou para minha filha, mas considero que foi para nós duas. Fiquei muito feliz pois minha filha estava imobilizada e a visita nos fez muito bem. Eu faltava muito aos cultos e comecei a ir com mais frequência depois de ter passado tudo. Nessa época, frequentava a igreja do Rudge Ramos, depois passei a ir na Igreja de Vila Planalto. A presença das pessoas é muito importante. Tenho uma amiga de verdade chamada Cida, que estava lá quando eu fiz a cirurgia. Eu estava no quarto sozinha e ela, minha amiguinha, chegou e eu nem vi. De repente me deu uma dor tão grande quando passou a anestesia, que eu preferia morrer. Foi um segundo de dor que parecia uma eterninade. Ela correu, chamou a médica... me ajudou! Por isso que eu digo que é importante a presença.

Qual a mensagem que deixaria para outras mulheres que estão passando pela mesma situação?

Sou muito tímida para falar em público mas preciso dar esse testemunho. Preciso agradecer à Deus. Na época da doença pensava "Eu vou criar essas três crianças, não vou morrer". Deus me ajudou e hoje são três engenheiros. Tem um mandamento que Jesus fala sobre amar o próximo como a si mesmo e a Deus acima de todas as coisas. Deus está falando para eu me amar, me gostar e me cuidar para que eu também goste dos outros. Eu me preocupo muito com os outros, com o próximo e nessa época eu pensava tanto nos outros que não pensei em mim. Eu passava o dia fazendo tudo pelas crianças, levando no judô, na escola e quando chegava a noite ao invés de descansar, ficava preocupada com a segurança do meu esposo. De repente veio essa surpresa. Eu tive câncer apesar de ter amamentado três crianças, e é bom falar isso, pois pode acontecer com qualquer um. Eu diria para as mulheres cuidarem do emocional e buscarem à Deus. O psicólogo é caro mas a igreja é de graça. Os pastores metodistas, fico admirada, que inteligentes que eles são. Busque os profissionais que Deus deixou.

Luzia terminou nossa entrevista, lembrando da sua lista que ela intitula como "Ferramentas de Deus", uma séria de caminhos usados por Ele para levar a cura em sua vida:


  • Fazer a cirurgia

  • Orar pelos médicos

  • procurar dormir

  • Ter muita fé

  • Acreditar que vai dar certo

  • Viver um dia de cada vez

  • Lembrar que o amanhã à Deus pertence

  • Se ocupar e não se preocupar

  • Se cuidar

  • Ser agradecida à Deus e à todos


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Escrito por Sara de Paula

 


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