
“Pois o seu Deus o instrui devidamente e o ensina.” (Isaías 28.26)
Existe alguma relação entre fé e educação? Na verdade, há uma interdependência entre ambas: educar exige acreditar no potencial humano, e esse desenvolvimento precisa da fé para acontecer. Por outro lado, a fé também deve ser ensinada (Romanos 10.17), por meio da verdade que liberta (João 8.32).
O legado: de onde viemos?
Durante séculos, a educação foi privilégio de poucos e esteve dissociada da espiritualidade. No século XVIII, John Wesley rompeu esse paradigma ao enxergar a educação como instrumento divino de transformação pessoal e social. Em 1740, fundou a Kingswood School, em Bristol, com um propósito ousado: oferecer ensino gratuito aos filhos de mineiros — ignorados pelo sistema educacional da época. Ali, a formação ia além da leitura e escrita; a fé era a base para a cidadania. Para Wesley, o saber não deveria ser limitado pela classe social, mas acessível a todos. Criou, assim, uma escola para os invisíveis de seu tempo.
Mais do que transmitir conhecimento, Wesley acreditava que a educação deveria moldar o caráter. As escolas metodistas incorporavam disciplinas espirituais como oração, leitura bíblica e serviço comunitário. A fé tornava-se prática, influenciando atitudes, decisões e relações.
Wesley via a escola como espaço de resistência contra a injustiça. Lutou contra a escravidão, denunciou a exploração dos pobres e incentivou o cuidado com os vulneráveis. Para ele, ensinar era também libertar — e cada aluno, uma semente de restauração.
A realidade: onde estamos?
No Brasil, a educação metodista foi essencial para o crescimento da igreja e expansão do Evangelho, consolidando o metodismo e empoderando vidas para a construção de um mundo melhor. Trabalho que foi fruto do esforço de mulheres americanas que se doaram como missionárias através da causa educacional.
Em nível global, a visão educacional de Wesley inspirou a criação de uma rede internacional de escolas e universidades metodistas, que permanece unindo razão e espiritualidade, ciência e ética, cidadania e compaixão. Em 2023, a 10ª Conferência Conjunta da Associação Internacional de Escolas, Faculdades e Universidades Metodistas celebrou os 275 anos da Kingswood School, reafirmando que a educação confessional metodista continua relevante e transformadora.
Em setembro de 2024, participei com outros professores da FaTIM, do encontro Integração, Fé e Aprendizagem, ministrado pelo Dr. Kevin Mannoia, na UMESP. O evento visou o resgate da espiritualidade na educação metodista, revelando que fé e saber são compatíveis — e juntas, podem revolucionar a sociedade.
O propósito: para onde vamos?
Mesmo diante das crises no meio educacional e em nossas instituições, o chamado metodista para a missão de educar permanece e acreditamos que, com responsabilidade, juntos, vamos superar todos os desafios, reconstruindo nossa história.
O legado de Wesley nos convida a repensar o papel da escola no mundo contemporâneo. Além das instituições confessionais, há cristãos atuantes na educação que são como “sal e luz” (Mateus 5.14). Em tempos de polarização de valores, unir fé e conhecimento continua sendo um farol, pois educar, segundo Wesley, é mais do que formar mentes: é tocar almas.
Fontes de pesquisa:
BOAVENTURA, Elias. Educação Metodista e o Manifesto dos Pioneiros da Educação de 1932. IX Simpósio Internacional. Processo Civilizador, v. 24, 2007.
DUNLAP-BERG, Barbara. A visão de Wesley sobre a educação continua viva e atual. Notícias MU, 2023. Disponível em: <https://www.umnews.org/pt/news/wesleys-vision-of-education-alive-and-well-today>. Acesso em: 10 set. 2025.
SCHÜTZER, Darlene Barbosa. Hegemonia e civilização na educação metodista. Piracicaba: UNIMEP, 2011. Tese de doutorado.
Imagem ilustrativa: copilot.microsoft.com

Rev. Welfany Nolasco Rodrigues
Professor na FaTIM – Faculdade de Teologia da Igreja Metodista
Coordenador Nacional de Escola Dominical da Igreja Metodista