Publicado por Redação em Metodismo - 26/10/2023 às 09:55:45

Carta Pastoral - 2023

 

Discípulos e discípulas nos caminhos da Missão vivem em Santidade Integral: pessoal e social

 

O Colégio Episcopal apresenta ao povo da Igreja Metodista a Pastoral que visa orientar a reflexão e ação dos membros sob o tema do ano de 2023: “Discípulos e Discípulas nos caminhos da Missão vivem em Santidade Integral: Pessoal e Social”. Esse diálogo pastoral tem o objetivo de enfatizar questões imprescindíveis para os metodistas quanto à santidade cristã, obviamente à luz dos valores e princípios da Palavra de Deus. Recomendamos que esse material seja objeto de estudos em grupos de discipulado, classes de Escola Dominical, cursos de capacitação de líderes, ministrações em cultos e reuniões diversas da rotina das igrejas locais. Em um momento de relativização da santidade, Deus chama o povo metodista a manifestar princípios que nos façam parecer com Ele. Santidade integral impõe sobre nós a compreensão de que, separados e separadas para Deus, os reflexos divinos em nós influenciarão realidades ao nosso redor.

Que Deus abençoe sua leitura e prática a partir desta pastoral.

Colégio Episcopal da Igreja Metodista 2023 -2027

 

“Mas, agora, vou para junto de ti e isto falo no mundo para que eles tenham o meu gozo completo em si mesmos. Eu lhes tenho dado a tua palavra, e o mundo os odiou, porque eles não são do mundo, como também eu não sou. Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal. Eles não são do mundo, como também eu não sou. Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade.”

João 17:13-19

 

SANTIDADE E MISSÃO

Na Bíblia, santidade é a separação de algo ou alguém para Deus. A santidade manifesta a pureza moral exclusivamente de Deus.

Em João 17.13-19, na oração de Jesus, fica muito claro que a santidade possui uma característica ética, pois o Cristo afirma que Seus discípulos e Suas discípulas “não pertencem ao mundo”. Não pertencer ao mundo implica valores, princípios, padrões e cosmovisão peculiar ao Reino de Deus.

Em nível pessoal, discípulos e discípulas de Jesus vivem de maneira diferente dos contextos sugeridos que afrontam os padrões que o Reino de Deus deseja propor. Santidade é assumir a cosmovisão do Reino divino. Cosmovisão é como vemos e entendemos o mundo ao nosso redor e as respostas que precisamos oferecer a partir das bases que definem quem observa tal mundo. Pessoas santificadas para Deus veem o mundo como Ele vê e se tornam instrumentos da influência do Seu Reino onde estão inseridas. 

Dessa forma, a santidade assume uma dimensão missionária, pois se não nos alinhamos com os princípios desse mundo (como fez Jesus), somos enviados e enviadas para transformá-lo. Deus chamou Abraão para discernir o número incontável de estrelas como missão de ser líder de uma grande nação. Ester foi desafiada a interpretar sua escolha para compor a corte como oportunidade de ser intercessora para livramento do seu povo. O povo de Israel foi chamado a enxergar o exílio na Babilônia como um tempo de aperfeiçoamento da parte de Deus até o momento do regresso para Jerusalém. Deus sempre vai nos desafiar a assumir sua cosmovisão diante de qualquer circunstância na vida. Por isso que separação para Deus (santidade) é missão, pois Ele nos leva a ver em tudo oportunidade de Sua vontade se estabelecer.

“O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso espírito, alma e corpo sejam conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.”

1ª Tessalonicenses 5:23

 

SANTIDADE PESSOAL

Entender o aspecto da missão na santidade precisa ser consequência natural do nosso apego ao que Deus gosta. Santidade deve ir além de simplesmente se abster de fazer algo que Deus não gosta, mas também se envolver determinantemente em coisas que Deus gosta. Para muitas pessoas, a santidade ao Senhor significa exclusivamente abdicar de práticas que são consideradas abomináveis diante de Deus e se comprometer com aquilo que o senso comum estabeleceu como honesto e louvável. Contudo, santidade precisa romper com a visão reducionista de apenas não poder, não tocar, não olhar e não fazer, para o que também podemos em Deus. Obviamente que a santidade irá sugerir diversas coisas que não devemos fazer, entretanto, há muito mais potencialidades na santidade. Ao escrever sua carta para Tito (3.9), o apóstolo Paulo reputa como coisa inútil ficar discutindo apenas as limitações impostas pela Lei. Santidade não pode ser resumida em limitações. Muitas pessoas têm dificuldades em lidar com o tema da santificação porque tal assunto foi moldado sob a restrição do que não se pode fazer. Santidade também é o que podemos fazer andando com Deus, conforme as Regras Gerais do Metodismo histórico: não praticar o mal, zelosamente praticar o bem e atender as ordenanças de Deus.

 

1. Santidade pessoal é capacitação espiritual

Se o grande alvo da santidade é a missão de espalhar os princípios do Reino de Deus a partir da cosmovisão (visão de mundo) divina, esse processo precisa ser iniciado dentro de cada discípulo e discípula com capacitação espiritual. É a capacitação do Espírito Santo que nos habilita a fazer coisas que não faríamos por nós mesmos. É um impulsionamento sobrenatural. Todos os testemunhos das relevantes biografias de homens e mulheres que andaram com Deus ao longo da história sempre concordam que muitas realizações foram alcançadas como resultado do favor de Deus e não por mérito humano. Santidade é receber capacitação do Espírito Santo, que compartilha dons para finalidades específicas.

Esse princípio da santidade está acessível para todos os discípulos e todas as discípulas que desejarem e buscarem esse revestimento de poder e preparação para algo que excede a capacidade humana de realizar. O acesso a esse movimento do Espírito Santo deve ser o objetivo de todo membro da Igreja Metodista.

 

2. Santidade pessoal é experimentar o cuidado e amizade de Deus

A Bíblia especifica em 1ª Pedro 1.16 que o objetivo é ser santo como Deus é santo. Temos um modelo em Deus. Andando com Deus e experimentando um relacionamento pessoal com Ele, é inevitável que Seu amor nos preencha a alma e corrija aspectos que o pecado descaracterizou ou destruiu. Jesus afirmou que chamava Seus discípulos como amigos ao invés de servos porque o amigo revela coisas íntimas aos amigos (João 15.15). É impossível andar com Deus e não ter áreas quebradas da vida reparadas por Ele, experimentando o cuidado de Deus. Todas as pessoas que se dispuseram a construir um relacionamento íntimo com Deus vivenciaram cura interior. Isso é cuidado de Deus. Lamentavelmente o estereótipo de santidade ao longo dos anos, como resultado da experiência religiosa de muitos crentes e instituições, foi sendo estabelecido de tal forma que criou repulsa em muitas pessoas. Contrariando essa imagem distorcida, santidade apresenta um Deus cuidadoso e amigo que repara cada área da nossa alma.

“O evangelho do Cristo não conhece religião que não seja religião social, e não conhece santidade que não seja santidade social.” (John Wesley)

 

SANTIDADE SOCIAL

O Metodismo é uma referência de santidade social. Qualquer estudo sério que aborda o tema da santificação irá considerar a compreensão wesleyana sobre ele. João Wesley foi um dos teólogos protestantes que contribuiu muito com o tema. Wesley viveu em um momento singular da Inglaterra, e, por isso, a santidade no Movimento Metodista enfatizou muito os aspectos sociais de sua época. O século XVIII foi o da ciência e da criação do mundo moderno. Apesar de seus benefícios, a revolução industrial proporcionou muita pobreza, marginalização e desumanização da sociedade europeia. No contexto da Inglaterra, muitas pessoas passaram por sofrimentos e privações devido às mudanças que estavam ocorrendo em seu país, tendo de migrar para as zonas urbanas em busca de sustento. Nesse ambiente surgiu o Metodismo. 

Para Wesley, a santidade era ênfase essencial para articular a promoção da vida. Os metodistas se encarregaram de espalhar pela Terra as dimensões da santidade bíblica. Se tratava de uma santidade relacional. Wesley afirmou: “Deus não levantou os metodistas para criarem uma nova seita, mas para reformarem a nação, particularmente a igreja, e espalharem a santidade bíblica sobre a terra”

Atestado que nossa tradição metodista não pode dissociar a santidade dos compromissos sociais ao nosso redor, o Colégio Episcopal entende que precisamos saber responder a tais desafios sociais. As nossas igrejas locais já se mobilizam para responder às situações emergenciais, todavia, os Bispos e a Bispa alertam que não se transforme essas iniciativas em exclusiva expressão do amor e da solidariedade cristã. A igreja local deve promover ações de solidariedade que gerem a reconstrução da dignidade humana naquilo que é essencial para manutenção da vida, especialmente, das pessoas que não conseguem acessar tais direitos com mais naturalidade. Reafirmamos que, como metodistas, somos envolvidos e envolvidas com a santidade social. Com este fim, devemos nos envolver com os movimentos que combatem ética e moralmente a corrupção política, o racismo, a discriminação em todas as suas formas, e os diversos tipos de exploração humana. 

A Igreja Metodista tem uma vocação histórica e específica de integrar a ação social no cotidiano, pensando no entrelaçamento vivo entre as dimensões pessoal, comunitária, Pública e ambiental. Destacamos que a ação social da Igreja Metodista está intencionalmente ligada ao anúncio da Graça salvadora e libertadora manifesta por Deus em Cristo Jesus a todas as pessoas, tornando nossos atos movimentos evangelísticos.

Diante da necessidade de tornar mais abrangente os objetivos da atuação da Igreja, suas pretensões na ação social podem ter a colaboração de outros órgãos, governamentais ou não, que tenham critérios éticos e morais recomendáveis e não contrariem posições doutrinárias da Igreja Metodista.

Segundo o Antigo e o Novo Testamentos, o povo de Israel e, posteriormente, a Igreja, não existiam de forma isolada do mundo. A tradição metodista entende que ter a posse da Terra corresponde à presença do Criador em Seu mundo, e Jesus deu o exemplo de diversas formas, para que, como igreja, entendêssemos que não existe santidade que não envolva o indivíduo com o mundo a sua volta.

O Colégio Episcopal espera que membros da Igreja Metodista possam buscar desenvolver uma vida de santidade. Assim como na encarnação de Deus, onde o Cristo assumiu toda a fragilidade humana, procurando fazer o bem em qualquer tempo, assim a Igreja Metodista desenvolve sua prática cristã espelhada em seus princípios e valores da ação social como imprescindíveis a uma vida de santidade integral.

São Paulo, agosto de 2023.

 

Colégio Episcopal da Igreja

Metodista do Brasil

Bispo Adonias Pereira do Lago, 5ª RE, Presidente

Bispo Roberto Alves de Souza, 7ª RE, Vice-presidente

Bispo Bruno Roberto Pereira dos Santos, 4ª RE, Secretário

Bispo Paulo Rangel dos Santos Gonçalves, 1ª RE

Bispo Nelson Magalhães Furtado, 2ª RE

Bispo Marcos Antonio Garcia, 3ª RE

Bispo Fernando César Monteiro, 6ª RE

Bispa Hideide Aparecida Gomes de Brito Torres, 8ª RE

Bispo Fábio Cosme da Silva, 9ª RE

Bispo André Luiz de Carvalho Nunes, REMNE


Posts relacionados