O povo metodista não tem apenas uma linda história, mas um precioso legado. Isso quer dizer que Deus usou John Wesley como pessoa para provocar uma grande transformação espiritual e social em seu tempo, mas também deixou um testemunho para influenciar as demais gerações, inclusive a nossa.
Um dos importantes aspectos do legado metodista de John Wesley é seu compromisso com a formação espiritual das pessoas (discipulado). Ele conseguiu criar espaços no metodismo que levavam as pessoas à maturidade espiritual, a qual refletia em todos os aspectos de sua vida.
Podemos dizer que, no metodismo primitivo, o discipulado acontecia basicamente a partir de três ambientes: as Sociedades, as Classes e as Bands. Esses espaços formavam a base da eclesiologia metodista e guiavam o povo metodista ao crescimento espiritual e numérico, causando impacto não apenas na comunidade local, mas em toda a sociedade.
- Sociedades – as Sociedades metodistas se constituíam por um grupo de metodistas de determinado local. Podemos considerar que era uma espécie de congregação. Tinham encontros pensados intencionalmente para não atrapalharem a participação nos cultos da igreja da Inglaterra (Igreja Anglicana). Eles não eram vistos como um grupo de dissidentes pela Igreja Anglicana, mas como pessoas com propósitos afins. Nesses encontros adoravam a Deus e os fundamentos do metodismo eram apresentados para as pessoas. Com o tempo, foram sendo formadas as ênfases doutrinárias do metodismo. O crescimento do número de Sociedades levou John Wesley a organizá-las em Circuitos. Quando ele morreu havia 114 circuitos com suas respectivas sociedades cada. Elas eram consideradas como a “cabeça” do metodismo, pois os fundamentos do metodismo eram trabalhados ali. Os encontros das Sociedades Metodistas devem inspirar os cultos e os encontros de grupos das igrejas locais hoje, a fim de nos reunirmos para nos consagrar a Deus e nos comprometermos com a essência da nossa fé.
- Classes – as Classes tiveram seu início em 1742, e a motivação não foi, a princípio, apenas pastoral. Naquela época, Wesley reuniu líderes da Sociedade de Bristol para pensar maneiras de pagar as dívidas da primeira capela do metodismo, o Salão Novo. Foi orientado pelo Capitão Foy a formar pequenos grupos de 12 para ter mais êxito na organização e na coleta das ofertas. Assim, as Sociedades foram divididas em pequenos grupos de aproximadamente 12 pessoas. As classes eram consideradas as “mãos do metodismo”. Elas deram ao metodismo a capacidade de cuidar de cada pessoa e ajudá-la a crescer em seu relacionamento com Deus, em seu crescimento pessoal e na vida comunitária na igreja e sociedade. Geralmente, nas Classes meditava-se e aprofundava-se nos temas tratados nos encontros das Sociedades. As Classes Metodistas foram uma ferramenta de mudança de comportamento. Os líderes das classes visitavam as pessoas de sua classe durante a semana, oravam, ajudavam as pessoas a lerem e a meditarem na Palavra de Deus, aconselhavam, recebiam ofertas para a igreja e auxílio aos pobres, prestavam relatórios, informavam aos líderes sobre a situação das pessoas de sua classe, entre outras ações de cuidado pastoral. A respeito das Classes Metodistas, Dwight L. Moody disse: “as reuniões de classe metodistas são a melhor instituição para o treinamento de convertidos que o mundo já viu”. É consenso entre os historiadores que, ao final do século XVIII, havia mais de 10 mil classes e 80.000 membros nas Sociedades Metodistas organizadas em classes. Podemos nos inspirar nas classes metodistas para o desenvolvimento das células ou grupos pequenos metodistas de hoje.
- Bands – as Bands (bandos) eram formadas por aproximadamente 6 pessoas do mesmo sexo. Esses grupos menores que as Classes se constituíam num espaço de prestação de contas e crescimento mútuo, com total transparência e dedicação à vida de santidade. Eles se reuniam semanalmente, começando pontualmente na hora marcada. Começavam com cânticos e orações. Após isso, em ordem espontânea, cada pessoa podia compartilhar o estado de sua alma, falando sobre seus desafios, tentações, pecados e demais situações de vida. Ao fim, cada pessoa recebia oração a partir da realidade de seu coração. Percebemos que o foco das Bands não era o estudo, como nas Sociedades e Classes, mas sim a prestação de contas e cuidado mútuo. Para ingressar nas Bands, a pessoa respondia perguntas e se comprometia em ser transparente com o que pensava e sentia, bem como em acolher a opinião das demais pessoas ali. As Bands eram consideradas o “coração do metodismo”. Podemos nos inspirar nas Bands para desenvolver os grupos de discipulado metodistas nos dias de hoje.
Enquanto povo chamado metodista, temos uma história e um legado que nos apontam para um compromisso com o discipulado. Assim como nos tempos de John Wesley, sua comunidade sofreu grandes transformações através dos homens e mulheres forjados nas Sociedades, Classes e Bands. Temos o desafio e compromisso de criar ambientes nas igrejas locais onde as pessoas possam crescer com Jesus, serem transformadas e influenciar toda a sociedade.
Pr. Paulo Pontes
Pastor na Igreja Metodista Central em Uberlândia
Professor na Faculdade de Teologia da Igreja Metodista
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