
Passados mais de um s?culo da Proclama??o da Rep?blica, a sociedade brasileira pergunta se os seus ideais e os seus prop?sitos foram e t?m sido realizados. A saber:
- A igualdade de todas e todos perante a lei;
- A isen??o de privil?gios de classes, grupos e categorias sociais;
- A livre express?o de ideias sem censuras e medos;
- O acesso universal ? educa??o, moradia, seguran?a e sa?de;
- O exerc?cio da cidadania plena (pol?tica e social) por parte dos seus cidad?os e cidad?s;
- O respeito ?s diferen?as e ? diversidade;
- A distribui??o igualit?ria de renda;
- O Estado laico.
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Olhando para a sua hist?ria repleta de tens?es, a resposta fica distante de ser positiva. Foram ciclos de crises pol?ticas e sociais causadas pelos conflitos de interesses entre as elites dominantes e por tentativas de exclus?o de maior e efetiva participa??o pol?tica das classes subalternas e m?dias, tanto no campo como na cidade. Ao todo foram sete constitui?es, v?rios golpes e tentativas de golpes, uma guerra civil, pelo menos duas ditaduras e cinco presidentes que n?o completaram o mandato (sendo que um suicidou-se e dois sa?ram por impeachment).
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A Rep?blica herdou uma sociedade desigual, racista, sexista e marcada pelas pr?ticas de corrup??o em todos os n?veis, e esta heran?a ainda permanece, sobretudo oprimindo os/as mais empobrecidos/as e as minorias. Mesmo havendo avan?os em todos os n?veis, este processo se caracterizou como sendo uma moderniza??o conservadora, ou seja, moderniza-se, mas se mant?m os privil?gios e as desigualdades.
No entanto, foram as for?as e as press?es oriundas dos movimentos sociais, dos partidos pol?ticos, dos sindicatos, das camadas m?dias urbanas e das popula?es perif?ricas submetidas ? viol?ncia e ? desigualdade, junto com as manifesta?es culturais ricas e plurais, que tornaram o Brasil uma sociedade paradoxalmente alegre e criativa, com uma capacidade de supera??o singular dos seus problemas mais agudos e estruturais.
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Neste cen?rio, perguntamos: E os/as protestantes e evang?licos/as em rela??o ? Rep?blica? Inicialmente, foram apoiadores/as propositivos/as ? Rep?blica. Defenderam bandeiras, como o voto feminino, a alfabetiza??o universal e a educa??o, a democracia, o estado laico e a liberdade religiosa, influenciados/as pelo Evangelho Social das primeiras d?cadas do s?culo XX. Fundaram igrejas, escolas, universidades, hospitais e uma imprensa cr?tica, inserindo no cotidiano outras pr?ticas religiosas e sociais. De fato, em coer?ncia com a hist?ria e o legado teol?gico reformado, quem mais deveria afirmar a rep?blica em seus prop?sitos e ideais mais humanos de justi?a e de igualdade seriam os/as protestantes e evang?licos/as.
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No entanto, sobretudo ap?s o golpe de 1964 e o regime militar, os/as evang?licos/as, mesmo com exce?es prof?ticas de lutas e resist?ncias at? hoje, tornaram-se aliados/as, em sua maioria, a um projeto de rep?blica excludente e mantenedor da desigualdade social. Esse posicionamento coincidiu com o crescimento num?rico exponencial no per?odo da Nova Rep?blica (1988-2016), a conquista de espa?o no campo pol?tico e midi?tico e a hegemonia de um discurso fundamentalista e autorit?rio.
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E, contrariamente ao seu legado reformado de liberdade de pensamento e de toler?ncia, os/as evang?licos/as, em suas express?es eclesi?sticas e manifesta?es no espa?o p?blico (pol?tico, cultural e midi?tico), posicionam-se reativamente contr?rios/as ?s necess?rias mudan?as e transforma?es sociais e pol?ticas, na dire??o de uma sociedade mais justa, equ?nime e pac?fica. Esta realidade evang?lica mais ampla, entretanto, se contrap?e ?s muitas a?es e pr?ticas invis?veis ? grande m?dia, por parte de igrejas e de movimentos atuantes nas bases e nas periferias, servindo e cuidando das pessoas que sofrem injusti?as e viol?ncias.
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Eis, portanto, um tempo de autocr?tica, de revisita??o dos pressupostos reformados e de posicionamentos mais cr?ticos ante as contradi?es de uma rep?blica que ainda n?o aconteceu. Isto para que ?corra o ju?zo como as ?guas, e a justi?a, como ribeiro perene? (Am?s 5.24).
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Brasil, 15 de novembro de 2016
Lyndon Ara?jo Santos |?Pastor da Igreja Evang?lica Congregacional de S?o Luis/MA
Doutor em Hist?ria, professor do Departamento de Hist?ria da UFMA, desde 1995.
Publicado no Expositor Crist?o impresso de dezembro 2016
Publicado originalmente em www.aliancaevangelica.org.br