
Alto Comissariado das Na?es Unidas para os Refugiados (ACNUR) realizou no final de mar?o, em Genebra, uma confer?ncia especial para debater a situa??o e o destino dos/as refugiados/as s?rios/as. Foram 92 pa?ses, ag?ncias da ONU, 10 organiza?es intergovernamentais e 24 ONGs que concordaram ao afirmar que o mundo vive uma das piores crises humanit?rias da hist?ria no que diz respeito ao tema dos/as refugiados/as. As implica?es do conflito na S?ria s?o, em grande parte, consequ?ncia dessa crise.
No Brasil, o porta-voz do ACNUR, Lu?s Fernando Godinho, afirmou que a reuni?o tratou de quest?es operacionais para solucionar ou suavizar as necessidades humanit?rias dos milh?es de pessoas vitimadas da guerra na S?ria.
A guerra na S?ria entra no sexto ano consecutivo e j? soma mais de 5 milh?es de refugiados/as, que tiveram que cruzar fronteiras internacionais em busca de prote??o. Outros 6,6 milh?es de pessoas est?o deslocadas internamente na S?ria.
?O que se v? hoje, por um lado, ? a consequ?ncia de um conflito que n?o se extingue, que n?o ? negociado nem solucionado. Por outro lado, se v? tamb?m uma fal?ncia das respostas que v?m sendo dadas a essas pes?soas, principalmente nos pa?ses vizinhos ? S?ria, que j? possuem cerca de 4,8 milh?es de refugiados/as s?rios/as registrados/as?, disse Godinho. Em setembro deste ano, a Assembleia Geral da ONU realizar? um encontro para discutir a quest?o dos/as refugiados/as no mundo.
N?meros apontados pela ACNUR somam mais de 2,2 mil s?rios/as vivendo no Brasil como refugiados/as reconhecidos/as. Eles/as formam o maior n?mero entre 8,6 mil estrangeiros/as reconhecidos/as como refugiados/as pelas autoridades brasileiras. O porta-voz da ACNUR reconhece que o Brasil tem sido exemplo para o restante do mundo sobre essa quest?o.
?O Brasil tem sido um grande exemplo para toda a comunidade internacional. O pa?s estabeleceu procedimentos para adquirir vistos especiais e, uma vez em territ?rio brasileiro, apresentar o seu pedido de ref?gio para reconstruir a sua vida?, finalizou.
Encontro
O Expositor Crist?o acompanhou o encontro do Departamento de Alian?as da AMTB e da Refugee Highway Partnership (RHP) ? movimento global que promove a coopera??o entre pessoas que atuam com refugiados/as e imigrantes ?, no m?s de abril, em Ara?ariguama, no interior de S?o Paulo. O Pastor Roberto Lugon, da Igreja Metodista em Carlos Prates, Belo Horizonte/MG, participou e compartilhou a experi?ncia de acolher uma fam?lia s?ria h? tr?s anos.

?Nossa experi?ncia ? bastante positiva. A comunidade se envolveu, claro que houve alguma rejei??o, mas outras igrejas se envolveram conosco. Criamos uma estrutura para receb?-los. ?s vezes as pessoas n?o apoiam porque desconhecem o processo. Tem que trabalhar a cultura, a fam?lia, o descaso da sociedade, que n?o ? t?o f?cil, antes de fazer o acolhimento?, disse o Pastor Lugon.
Quando perguntei ao Presidente da RHP, Brian OConnell, sobre a rela??o do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com os/as imigrantes e refugiados/as, a resposta foi direta.
?Os Estados Unidos, diferente do Brasil e do Canad?, lidam com a quest?o dos refugiados/as sob outra perspectiva. Uma preocupa??o do governo, talvez at? por demais, mas leg?tima, ? por uma quest?o de seguran?a. Levar imigrantes para dentro do pa?s pode afetar o n?vel de seguran?a dos/as americanos/as?, disse.
O presidente do Caebe ? Centro de Apoio ao Estrangeiro no Brasil e Exterior, Pastor Marcos Stier Calixto, trabalha com imigrantes refugiados/as ?rabes desde 2010 e, atualmente, tem dado uma aten??o especial aos/?s refugiados/as s?rios/as. Ele diz que se trata de uma quest?o de longas datas.
?Isso ? uma quest?o hist?rica. T?nhamos imigrantes no Brasil desde 1889. S? que nessas ondas de migra??o houve uma nova forma por causa do tipo de migrantes que passaram a vir; em 2010 houve uma formula??o voltada para isso?, disse ao Expositor Crist?o.
Outro participante do encontro foi o Pastor da Igreja Metodista Unida em Sri Lanka, Godfrey Yogarajah. Ele destacou que a Igreja tem tratado o tema esporadicamente. ?Tem sido bem espor?dico, mas h? potencial para fazer mais. Nem o mundo nem a Igreja estavam preparados para fazer algo para os/as refugiados/as. Enxergamos os sinais, mas fomos ignorantes, na verdade, a Igreja precisa estar na frente. ? um passo de ajuda humanit?ria. ? uma crise humanit?ria de n?vel global. O Brasil se tornou um exemplo ao abrir as portas para os/as imigrantes?, enfatizou o Pastor Godfrey.
O presidente do Dignit? e Diretor da RHP para o Brasil e Am?rica Latina, Pastor Jos? Prado, destaca que h? v?rias alternativas para ajudar os/as imigrantes e refugiados/as. ?A igreja pode se mobilizar para oferecer uma op??o de moradia. Uma fam?lia brasileira pode alugar uma casa ou apartamento para colocar essa fam?lia refugiada por determinado per?odo, ou at? mesmo um grupo de tr?s ou quatro irm?os/?s pode fazer isso. Existem v?rias possibilidades, basta querer ajudar?, disse o Pastor Prado.
Haitianos/as
A Bispa Hideide Brito Torres esteve, no m?s de mar?o, em Goi?nia Leste. Ela ouviu relatos do Pastor S?rgio de Oliveira Campos sobre a experi?n?cia da comunidade com o/a estrangeiro/a. ?A acolhida ao/? estrangeiro/a ? uma oportunidade de aprendizado que a igreja tem de se reinventar e se prostrar diante de Deus. Estendemos a m?o e somos sustentados/as nessas experi?ncias com o diferente tamb?m. ? um tipo de pastoral que estamos come?ando a experimentar e a conhecer que pode trazer frutos para o futuro, n?o s? de nossa experi?ncia mission?ria, mas para n?s pelo aprendizado do compartilhar da f? com povos que vivenciam experi?ncias distintas das nossas aqui do Brasil?, disse a Bispa.
O Pastor Sergio de Oliveira Campos destacou a import?ncia do trabalho que iniciou em 2014. ?Eles/as est?o organizados/as em duas congrega?es: em Expansul, em Aparecida de Goi?nia, na qual frequentam 120 haitianos/as, e em Jardim Guanabara, tamb?m em Goi?nia, que re?ne 65 pessoas?, disse o Pastor Sergio.
A acolhida da Igreja Metodista tamb?m se d? por meio de a??o social com ajuda de alimentos, empregos, para tirar documentos e alguns cursos de curta dura??o que podem ajudar na procura de um trabalho. Tamb?m s?o oferecidas aulas de portugu?s (instrumental). O projeto leva ensino de l?ngua portuguesa a imigrantes haitianos/as, e o curso auxilia estrangeiros/as na adapta??o ao idioma e na inser??o no mercado de trabalho.
H? tamb?m outras igrejas metodistas que acolhem haitianos/as, por exemplo, em Porto Velho/RO, Manaus/AM e Canoas/RS, que j? foram noticiadas pelo Expositor Crist?o em edi?es anteriores.
Relat?rio
O relat?rio anual Tend?ncias Globais (Global Trends), da Ag?ncia da ONU para Refugiados ? a ACNUR ?, registra o deslocamento for?ado ao redor do mundo, com informa?es em dados de ag?ncias parceiras, dos governos e da pr?pria ACNUR, um total de 65,3 milh?es de pessoas que foram deslocadas devido a guerras e conflitos at? o final de 2015 ? um crescimento percentual de quase 10% se comparado com as informa?es de 2014, que registrou 59,5 milh?es. Pela primeira vez o deslocamento for?ado ultrapassou a marca dos 60 milh?es de pessoas. A ACNUR registrou uma m?dia de seis pessoas deslocadas a cada minuto em 2005. Atualmente, esse n?mero ? de 24 por minuto.
Os/as novos/as deslocados/as, por persegui?es e conflitos somam 12,4 milh?es em 2015, que se dividem em: 8,6 milh?es de pessoas for?adas a abandonar seus lares e a mudar-se para outra regi?o de seu pa?s; 1,8 milh?o tiveram que cruzar as fronteiras. Do total de 65,3 milh?es tamb?m est?o inclusos 21,3 milh?es de refugiados/as ao redor do mundo, 40,8 milh?es deslocados/as que continuam dentro de seus pa?ses e 3,2 milh?es de solicitantes de ref?gio. Com o crescimento de 2,6 milh?es de casos registrados em 2015, comparados aos n?meros do ano anterior, pode-se dizer que o mundo assiste a um novo recorde de deslocados/as internos/as. Pelo menos, segundo a ACNUR, havia 10 milh?es de ap?tridas at? o final de 2015, embora os n?meros enviados pelos governos informam a presen?a de 3,7% em 78 pa?ses.
Alguns pa?ses se destacam no relat?rio Tend?ncias Globais como principal origem de refugiados/as no mundo. A S?ria soma 4,9 milh?es de refugiados/as, o Afeganist?o, 2,7 milh?es, e a Som?lia, 1,1 milh?o. J? os pa?ses com maior n?mero de deslocados/as internos/as est?o a Col?mbia com 6,9 milh?es, a S?ria com 6,6 milh?es e o Iraque com 4,4 milh?es. Em 2015, o I?men somou 9% de sua popula??o com novos/as deslocados/as internos/as, um total de 2,5 milh?es de pessoas.
Entre os pa?ses receptores, o Brasil se destaca com um crescimento de 2.868% nos ?ltimos cinco anos para as solicita?es de ref?gio, segundo relat?rio de 2016 do Comit? Nacional para Refugiados (CONARE). Em 2010 havia 966 casos registrados e, em 2015, o n?mero chegou a 28.670. O relat?rio mostra ainda que os/as s?rios/as somam a maior comunidade de refugiados/as reconhecidos no Brasil, totalizando 2.298, em sequ?ncia vem os/as angolanos/as com 1.420, colombianos/as com 1.100, congoleses/as com 968 e palestinos/as com 376. No total, s?o 79 nacionalidades presentes no pa?s.
A Turquia, por sua vez, ? o pa?s que mais abriga refugiados/as ? um total de 2,5 milh?es. O L?bano tem a maior concentra??o: s?o 183 pessoas para cada mil habitantes. A Rep?blica Democr?tica do Congo, levando em conta a propor??o ao tamanho da economia do pa?s, acolhe o maior n?mero de refugiados/as: 471 por d?lar de seu Produto Interno Bruto (PIB).
Baixe aqui o relat?rio completo da ACNUR.?
N?meros
Mortes: As organiza?es humanit?rias que atuam na S?ria estimam que entre 300 e 400 mil pessoas j? morreram por culpa da guerra.
Desabrigados/as e refugiados/as: A S?ria possu?a 22 milh?es de habitantes. Hoje, 6,5 milh?es de pessoas est?o desabrigadas e quase 5 milh?es buscaram ref?gio no exterior.
Assist?ncia M?dica e Sanit?ria: Segundo a ONU, mais da metade dos hospitais foram fechados ou funcionam parcialmente. Dois ter?os dos/as profissionais da sa?de abandonaram o pa?s; 11,5 milh?es de pessoas ? sendo 40% crian?as ? n?o t?m acesso a tratamentos adequados.
Civis sitiados/as: Um milh?o de s?rios/as vivem em ?reas sitiadas por algum dos agentes respons?veis pelo conflito e n?o conseguem receber ajuda humanit?ria com regularidade.
Crian?as: Mais de 2,8 milh?es de menores de idade vivem em ?reas dif?ceis de serem atendidas, sendo que 280 mil delas vivem em locais sitiados por grupos pr? ou contra o governo de Bashar al-Assad.
Educa??o: Mais de 6 milh?es de crian?as e adolescentes dependem de assist?ncia humanit?ria para viver e outras 2,3 milh?es est?o refugiadas. Muitas n?o conseguem frequentar escolas, sendo que 1,7 milh?o dos/as alunos/as da S?ria n?o t?m mais aulas.
Ataques com armas qu?micas: O ataque qu?mico ocorrido no ?ltimo 4 de abril na prov?ncia de Idlib, com mais de 80 mortos/as, ? s? mais um da s?rie de a?es do tipo nos ?ltimos anos.
Confira abaixo a entrevista do m?s sobre o tema:
Jos? Geraldo Magalh?es
Publicado originalmente no?Jornal Expositor Crist?o impresso de maio/2017