Conhe?a a hist?ria de dona Judith Salvador

Dona Judith Salvador conta com detalhes sua hist?ria de vida.
A senhora casou? ?Gra?as a Deus, n?o. Nem pensava em namorar. S? cuidava dos/as meus/as sobrinhos/as, deixava tudo limpo e ia para a Igreja. Era assim o meu viver?. Essa foi a resposta da dona Judith Salvador em um dos momentos da entrevista realizada no m?s de maio na Rua Vale do Cariri, Trememb?, zona norte de S?o Paulo.
Judith completou cem anos dia 13 de abril, mas se Deus deixasse ela iria at? o 3? s?culo. ?S? tenho a agradecer e vou levando at? Deus me chamar. S? n?o tenho pressa, se eu puder ir quando tiver 200 ou 300 anos eu vou. N?o sou boba, n?o?, disse a centen?ria misturando a fala com algumas risadas.?Quando perguntei o que mais a marcou durante um s?culo na Igreja Metodista, ela respondeu sem titubear: ?Se eu for contar tudo, vou levar uns tr?s dias aqui, mas tenho tanta hist?ria, tenho boas e ruins?. Uma das boas era que a dona Judith gostava de tocar ?rg?o na igreja, se envolvia nos trabalhos organizados pelos/as jovens, pelas mulheres, era ativa na Escola Dominical e gostava de declamar poesias no Dia das M?es e no Natal.
Uma das coisas ruins foi o racismo que ela experimentou dentro da igreja. ?O senhor sabe que h? o racismo, mas passamos por cima de tudo isso. Quando comecei a querer aprender a tocar na igreja, teve uma senhora que eu n?o vou falar o nome, mas era da igreja ? isso preciso dizer ?, que disse: ?ai, meu Deus?. Parecia que eu tinha feito um crime e ela come?ou a me colocar abaixo de zero?, desabafou. Dona Judith contou o que a tal senhora disse algumas vezes: ?Se eu quisesse aprender a tocar eu tinha que comprar um piano. Eu s? queria tocar?. A dona No?mia, professora de dona Judith e esposa do pastor, ?ficou vermelha?, mas quando foi no outro dia, a professora tomou as dores e continuou dando as aulas para dona Judith.
Como perdeu a m?e aos sete anos, foi criada pela irm? mais velha; a vida foi dif?cil, dura, mas sempre com esperan?a. Ela conta que o Coro de resist?ncia formado por pessoas negras iniciou na casa dela. ?Quer?amos um pastor negro. O Bispo Nelson sugeriu o Devair. Conversando com o Mois?s da Rocha, iniciamos o Coro, que existe at? hoje. Come?ou l? em casa?. Acha que era f?cil ir para a Igreja? Embora tenha nascido no Bairro Liberdade, na Rua S?o Joaquim, n? 31, a fam?lia frequentava Itaquera ? uma dist?ncia de aproximadamente 20 quil?metros. Se pensar bem, n?o ? tanto, a n?o ser que n?o tivesse transporte p?blico. Naquela ?poca, dona Judith juntamente com a fam?lia se deslocavam para Itaquera pela manh? e retornavam somente ? noite. Tinha uma raz?o para fazer isso. Os hor?rios do trem eram um pela manh? e outro ? tarde. ?Minha m?e me levava na Igreja e quando n?o dava para voltar por causa do hor?rio, n?s pous?vamos no sal?o da Igreja. A? t?nhamos que esperar o trem no outro dia pela manh?. Era um sacrif?cio, mas sempre foi assim?, contou.
Pensa em mudar de Igreja? ?Eu n?o. Quero morrer na Igreja Metodista?.
O testemunho de vida da dona Nair Nascimento

Dona Nair mant?m na sala a foto do irm?o falecido – Bispo Natanael inoc?ncio.
A outra centen?ria metodista ? irm? do falecido Bispo Natanael Inoc?ncio do Nascimento, a dona Nair Ferraz do Nascimento. ?Quando eu tinha 8 anos os/as m?dicos/as disseram que seria dif?cil eu chegar aos 18 porque eu tinha les?es no cora??o. Muitos/as deles/as j? se foram e, quando eu chegar l?, vou dizer: ?viu, voc?s vieram primeiro do que eu??, conta a dona Nair.
Posso resumir essa entrevista com uma senhora feliz, alegre e amorosa. Qualidades que apreciamos nas av?s. Perguntei o que significa a Igreja Metodista para ela. ?Me traz o papel que escrevi para ver se sai alguma coisa?, e logo, com o papel em m?os, come?ou a ler: ?Lugar onde a gente se sente amado/a, um lugar sagrado. Procuro proclamar isso por onde eu passo?, e logo o papel ficou de lado e dona Nair n?o parou de falar sobre a alegria que ela tem em servir a Deus na Igreja Metodista e, no caso dela, em Rudge Ramos, S?o Bernardo do Campo/SP.
?Eu abra?o meus irm?os e irm?s. Eles/as dizem que parece que eu n?o tenho cem anos, eu respondo: ?v?o falando que eu vou acreditando?. A Igreja ? o rebanho de Deus. Somos o corpo de Cristo. Temos que sustent?-la com nosso testemunho, consagra??o, trazendo as almas para Jesus. Somos os arautos da verdade que ? Cristo?.
Volta e meia, dona Nair disparava v?rios vers?culos da B?blia de cor para expressar a sua f? em Jesus. Pensei em perguntar quantos anos ela espera viver mais, mas n?o deu tempo, no meio da pergunta ela me interceptou. ?Tenho pressa para ir encontrar o Papai do c?u, pressa para que Ele me leve. N?o quero alterar o projeto do Pai para minha vida, mas eu falo: ?olha, Papai do c?u, sem querer mexer em seu projeto, mas se o Senhor quiser dar uma adiantadinha, eu agrade?o??, enfatizou dona Nair. Segundo ela, j? viveu bastante.
Ela nunca saiu da igreja. Morou muitos anos em Pen?polis, e como l? n?o tinha Igreja Metodista, ela frequentou a Batista. ?Mam?e sempre falava para a gente ir para outra igreja se onde a gente morasse n?o tivesse uma Igreja Metodista?. Dona Nair critica quem fica mudando de igreja porque n?o concorda com o/a pastor/a, irm?o/?. ?Acho um fiasco um/a crist?o/? que n?o se adapta na igreja. Daqui a pouco a gente encontra a pessoa em outra igreja; acho isso uma pessoa desequilibrada?, disse ela com cara de brava.
A hist?ria de dona Nair na Igreja Metodista ? de longa data. Ela trabalhou no Instituto Americano de Lins por 14 anos. Foi presidente de Sociedade Metodista de Mulheres, realizava cultos dom?sticos, foi Guia Leiga quando se mudou para S?o Bernardo do Campo/SP, na Igreja Metodista em Rudge Ramos. ?S? n?o fui tesoureira. N?o gosto de n?meros?.
O segredo para chegar aos cem anos, segundo dona Nair, ? viver constantemente com Deus. ?No meu lar tive a cria??o de culto dom?stico. Toda a fam?lia foi zelosa nesse ponto, mas principalmente meus pais. Isso foi uma coisa muito boa para me conduzir durante esses cem anos. Tive alicerces profundos para chegar aqui?. Na perda do filho de 14 anos, Deus a fortaleceu. ?S? Deus pode nos dar sustento. Eu presenciei isso quando perdi meu filho. Meus pais, fam?lia, todos/as tiveram marcas profundas na igreja. Foi isso que me sustentou?.
Jos? Geraldo Magalh?es
Publicado originalmente no jornal Expositor Crist?o de julho