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De acordo com o Atlas da Viol?ncia 2017, publicado em 5 de junho do corrente ano, sim, os/as jovens negros/as, perif?ricos/as est?o morrendo. Esse foi o resultado do estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econ?mica Aplicada (Ipea) e pelo F?rum Brasileiro de Seguran?a P?blica, que traduz a triste realidade nessa ?ltima d?cada.
A pesquisa aponta que ?h? um processo gradativo da vitimiza??o letal da juventude, em que os/as mortos/as s?o cada vez mais jovens?, 92% dos homic?dios acometem a parcela da popula??o de 15 a 29 anos. Os/as jovens que est?o morrendo de alguma forma j? foram atingidos/as por outras priva?es de direito social, tais como escolariza??o, trabalho, lazer, cultura.
Outro dado perturbador presente no estudo ? que a cada 100 pessoas assassinadas, 71 s?o negras. Uma pessoa negra tem 23,5% a mais de chance de ser assassinada.
A naturaliza??o das viol?ncias, principalmente quando praticadas contra determinados grupos humanos, ? uma realidade no contexto social que se perpetua ao longo dos tempos. A menos valia, a desumaniza??o e a morte dessa juventude n?o t?m gerado como??o. Como??o no sentido genu?no da palavra que ? derivada do verbo latim comovere e seu significado ?perturbar, mover? nos impele para um movimento conjunto. A naturaliza??o da morte das juventudes, sobretudo das juventudes negras, tem gerado uma frieza social que chega a ser assustadora.
? importante frisar que ao nos propormos a analisar o contexto, seja na perspectiva socioecon?mica, demogr?fica, educacional, que tenha como foco a popula??o afrodescendente no Brasil, ? fundamental a compreens?o conceitual do que ? o racismo estrutural, este baliza em tempo pret?rito ou presente todas as formas de rela?es sociais que se estabelecem no campo do p?blico ou privado.
N?o ? de hoje que o exterm?nio da popula??o negra vem sendo anunciado e estruturado na na??o brasileira em forma de pol?ticas p?blicas. No ano de 1911, Jo?o Batista de Lacerda, no Congresso Universal das Ra?as em Londres, afirmou, em sua comunica??o cient?fica, que no per?odo de um s?culo a popula??o do Brasil seria provavelmente branca, e no mesmo per?odo a popula??o ind?gena e a popula??o negra desapareceriam.
A partir de tal predi??o, pol?ticas p?blicas como: continuidades da imigra??o europeia, higieniza??o das cidades, aus?ncias de pol?ticas agr?rias e educacionais para as popula?es rec?m-sa?das do processo de escraviza??o, entre outras constru?es epistemol?gicas, foram arquitetadas para fazer cumprir as previs?es da intelectualidade brasileira de branquea?mento da sociedade.
? importante notar que as aus?ncias de pol?ticas p?blicas que pudessem garantir direitos ?s popula?es de descend?ncia africana e ind?gena n?o ficaram estanques no passado, pois, ao analisar quem s?o as v?timas do atual genoc?dio juvenil, observa-se que s?o os/as mesmos/as sujeitos/as que continuam desassistidos/as por pol?ticas de inser??o e direitos sociais.
Como Igreja de Cristo, precisamos nos comover, precisamos nos mover, no sentido de perturbar a ordem vigente que se estrutura no racismo e espelha mortandade entre as juventudes. Que nossa como??o (com = junto + movere = mover) potencialize em n?s a voz e a a??o comunit?ria de profetizar vida em meio aos vales de ossos secos.
Juliana de Souza Mavoungou Yade
Doutora em Educa??o
Pastoral Nacional de Combate ao Racismo- Igreja Metodista