Publicado por Redação em Entrevista - 09/01/2016 às 16:52:16

Pesquisador defende que a Igreja Metodista tem força para combater o racismo

Palavra "Racismo" com um símbolo de proibido na letra "O"O pesquisador e pastor metodista José Roberto Alves de Loiola, que defendeu na dissertação de mestrado sobre o Metodismo de imigração e afro-brasileiros na região de Piracicaba no período de 1867 a 1930, falou numa entrevista ao Expositor Cristão sobre a força da Igreja para enfrentar o racismo.

Expositor Cristão: Como o senhor avalia as mortes das pessoas negras no Brasil?
Roberto Loiola: Genocídio é o termo mais bem apropriado para aplicarmos a essa eliminação de milhares de pessoas afro-descendentes, inclusive dos cinco jovens negros no Rio. A ausência de políticas públicas nas áreas estratégicas com ênfase nas populações negras também ajuda a explicar tanta violência. Há outros casos, por exemplo, o atendimento inadequado de saúde, penalizando homens e mulheres em sua maioria pobres e negros/as, além da negligência médica que mata milhares de mulheres negras durante os partos nos hospitais públicos.

EC: Como vencer o preconceito racial?
RL: Penso que as pessoas ignoram tanto a realidade quanto a história formativa do Brasil. Há uma tendência da negação do racismo. Isso se explica, pois o Brasil foi inventado, pensado e organizado a partir da ideia que coloca os interesses e a cultura europeia como sendo as mais importantes e avançadas do mundo. Penso que as legislações voltadas à garantia da igualdade racial no país é um passo importante para vencermos a realidade do racismo, seja pelo viés da educação para a diversidade e cidadania, seja reprimindo com rigor casos de racismo. Estou convencido de que uma mentalidade racista se desconstrói via educação formal e informal.

EC: Martin Luther King foi às ruas lutar pela causa dos negros. A Igreja não está muito calada?
RL: O caso do irmão Martin Luther King foi exemplar. A pauta de reivindicações dos/as evangélicos/as que vão às ruas no Brasil não contempla as reais necessidades dos/as discriminados/as, não tem profetismo e, muito menos, evangelicidade. Martin pode nos inspirar ainda hoje. Mas o nosso contexto exige que tracemos nossas próprias estratégias. Um bom começo para os/as evangélicos/as atuais é reler as Escrituras Sagradas corrigindo hermenêuticas racistas, além de ter um novo olhar do próximo como um “igual” em dignidade e possibilidade.

EC: Qual a força da Igreja Metodista para militar na causa contra o racismo?
RL: Como parte do protestantismo histórico, no Brasil, os/as metodistas são pioneiros/as na organização de uma pastoral de combate ao racismo. E uma das fontes que alimenta a força dessa Igreja é a sua Teologia Wesleyana. Nossos documentos e ações refletem, sem dúvida, a força que essa Igreja tem. A minha avaliação é que o metodismo militante, no Brasil, está adormecido. A nossa força e legado não tem sido otimizado na direção do combate ao racismo. Entendo que não basta “cultos celebrativos”, “voz de privilégio” em concílios. Precisamos retomar essa força e legado para, definitivamente, implantar políticas locais, distritais, regionais e nacionais. A minha prece é que o Programa Nacional Antirracismo saia do papel e se encarne na vida e missão da Igreja Metodista brasileira.

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