Publicado por Redação em Notícia, Nacional, Educação, Bíblia - 02/08/2017 às 17:24:13

Olhos bons ou maus

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Nossa língua portuguesa é rica e carregada de metáforas, coloquialismo, figuras de linguagens e muito mais pegadinhas que podem nos ajudar ou nos complicar; visto que palavras não foram feitas para ferir ninguém, mas sim para trazer vida aos/às que ouvem, recai sobre nós a responsabilidade de buscar cada vez mais um modo de falar inclusivo e abençoador a todos/as.

Em Mateus 6.22-23 encontramos um texto que, se interpretado literalmente, pode trazer dificuldades a deficientes visuais. Vamos ao texto: “Os olhos são a candeia do corpo. Se os seus olhos forem bons, todo o seu corpo será cheio de luz. Mas se os seus olhos forem maus, todo o seu corpo será cheio de trevas. Portanto, se a luz que está dentro de você são trevas, que tremendas trevas são!”.

Interessante observar que, em um primeiro olhar, o texto citado parece não possuir conexão com o todo. Se nos aprofundarmos no texto, podemos facilmente notar que há uma harmonização perfeita, pois o verso 22 diz que onde está o nosso tesouro ali está nosso coração, e o 24 diz que não podemos servir a Deus ou ao dinheiro, é precisamente neste contexto em que está inserida a fala de Jesus – se os nossos olhos forem maus, ou seja, materialistas apegados às coisas terrenas, todo o nosso corpo também estará em mau estado e jamais viverá para Deus e as coisas que compreendem seu reino.

Penso que para fazermos uma interpretação correta é preciso verificar o que o texto Bíblico não quer dizer e, posteriormente, o passo seguinte: seu real significado e sua aplicação. O texto aqui analisado não quer nem de longe dizer que se uma pessoa possui cegueira ela não está apta para seguir a Cristo, mas sim que com olhos perfeitos ou cegos apegados às riquezas do mundo o reino do Senhor não está nela. Então, como devo usar o texto de Mateus 22-23 em minha comunidade? O que ele realmente quer dizer, os/as apaixonados/as pelas glórias terrenas não têm olhos bons para o reino de Deus, sem jamais deixar transparecer que uma pessoa com deficiência não é bem-vinda ao rebanho missionário do Senhor.

É possível para alguns de nossos/as leitores/as que o presente seja preciosismo demais, mas verdadeiramente creio não ser o caso, e para reforçar o que expus conto uma triste, porém, importante experiência que vivi: Um garotinho puxava sua vó pelas mãos, que já andava encurvada pela idade. De repente ele diz: “Vó! a senhora não é de Deus?”. A vó, assustada, pergunta: “Por que, meu filho?”. Então:“Porque eu aprendi na música do homenzinho torto, que quem é torto não é de Deus e precisa ser endireitado!”. Depois do ocorrido tomei a decisão de não ensinar mais a referida música na igreja, pois, embora seu autor não tivesse a intenção de tal interpretação, o fato é que comunicação não se dá somente pelo que eu falo, mas sim pelo que o/a outro/a entende.

Portanto, o que se requer de nós, despenseiros/as da pura mensagem do Evangelho de Cristo, é sensibilidade na linguagem e no coração para, deste modo, evidenciar sempre a maravilhosa inclusibilidade que é própria do Senhorio de Cristo. Humildemente convidamos todos/as a uma releitura dos textos sagrados sobre o olhar da pessoa com deficiência, louvamos a Deus, pois a Igreja Metodista, pelo que sabemos, foi a primeira a fazer uso da linguagem inclusiva.
Assista ao vídeo com o Bispo Luiz Vergílio sobre a Pastoral da Inclusão pelo seu celular.



Pr. Enoque Rodrigo de Oliveira Leite
Pastoral Nacional de Inclusão
Publicado originalmente no jornal Expositor Cristão de agosto/2017

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