Publicado por Redação em Metodismo, Notícia, Atualidade, Banner - 06/09/2017 às 14:32:17

Nos 150 anos de metodismo uma história que precisa ser relembrada

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John Wesley viveu na Inglaterra do século XVIII, uma sociedade conturbada pela Revolução Industrial, onde crescia muito o número de desempregados/as. A Inglaterra estava cheia de pessoas itinerantes em situação de rua, políticos corruptos, vícios e violência generalizada. O cristianismo, em todas as suas denominações, estava definhando. Ao invés de influenciar, o cristianismo estava sendo influenciado, de maneira alarmante, pela apatia religiosa e pela degeneração moral. Dentre aqueles/as que não se conformavam com esse estado paralisante da religião cristã, sobressaiu-se John Wesley. Primeiro, durante o tempo de estudante na Universidade de Oxford, depois como líder no meio do povo. A seguir, você vai conhecer as histórias desse homem conhecido por todos nós como o pai do metodismo.

Infância
John Wesley, décimo quinto filho do ministro anglicano Samuel e de Susana Wesley, nasceu a 17 de junho de 1703, em Epworth na Inglaterra. Devido às atividades pastorais que impediam o Reverendo Samuel de dar a devida assistência ao lar, Susana assumiu a administração financeira da família e a educação dos filhos e filhas. Disciplinava-os/as com rigidez, mantendo um horário para cada atividade e reservando um tempo de encontro com cada filho/a para conversar, estudar e orar.

Incêndio em sua casa

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Ainda na infância, John Wesley foi o último a ser salvo, de forma miraculosa, de um incêndio que destruiu toda a sua casa, onde estivera preso no segundo andar. A partir desse dia, Susana, sua mãe, dedicou-lhe atenção especial, pois entendeu que Deus havia poupado sua vida para algo muito especial. Aos cinco anos de idade, John começou a ser alfabetizado por Suzana, que usava o livro dos Salmos como apostila.
John estudou com sua mãe até os onze anos. Entrou, então, para uma escola pública, onde ficou como aluno interno por seis anos. Aos dezessete foi para a Universidade de Oxford.

Estudos

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John Wesley iniciou seus estudos em Oxford, onde começa a se reunir com um grupo de estudantes para meditação bíblica e oração, sendo conhecidos pelos colegas universitários de “Clube Santo”, ele não inventou o nome: alunos, notando que os membros do grupo tinham horário e método para tudo que faziam, os tacharam de ‘metodistas’. Wesley preferia chamá-los simplesmente de ‘Metodistas de Oxford’.
Neste grupo, Wesley e seu irmão Charles iniciaram visitas e evangelismos em presídios. Wesley passou então a se interessar pela questão social de seu país e a miséria que a Inglaterra vivia na época. Assim, gradua-se em Teologia e pode ajudar seu pai na direção da Igreja Anglicana. Isso até os 32 anos, quando atendeu a um apelo: precisava-se de missionários/as na Virgínia, Nova Inglaterra.
Há uma equivocada história de que o reverendo Wesley havia sido maçom. Houve um homem de nome John Wesley em Downpatrick, Irlanda, que se tornou mestre maçom em 13 de outubro de 1788. O reverendo Wesley também esteve em Downpatrick algumas vezes, mas não nessa data. Em 13 de outubro de 1788 o diário do reverendo John Wesley registra que ele esteve em Wallingford, proximidade de Londres.

Missão em Virgínia

Um dos episódios que marcou o início do metodismo foi a viagem missionária de John Wesley aos EUA – Virgínia – para “evangelizar os/as índios/as”, sendo praticamente fracassado. Em sua viagem de retorno, John Wesley expressa sua frustração “fui à América evangelizar os/as índios/as, mas quem me converterá?”. Na travessia do Oceano Atlântico, Wesley ficou profundamente impressionado com um grupo de morávios/as (grupo de cristãos/ãs pietistas que buscavam a conversão pessoal mediante o Espírito Santo) a bordo do navio que, durante uma grande tempestade, as crianças e os/as adultos/as morávios/as cantavam e louvavam ao nome do Senhor (Deus), e Wesley, vendo a fé que tinham diante do risco da morte (o medo de morrer acompanhava Wesley por ele achar que Deus não poderia justificá-lo mediante seus pecados e por isso constantemente temia a morte desde sua juventude), predispôs a seguir a fé evangélica dos/as morávios/as. Retornou à Inglaterra em 1738.

Conversão e Coração aquecido

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Após dois anos, John Wesley volta desiludido com o trabalho realizado na Virgínia. Encontra-se, então, com Pedro Böhler, em Londres. Böhler era pastor moraviano (da Morávia, Alemanha) e com ele John Wesley se convence de que a fé é uma experiência total da vida humana. Procurou, então, libertar-se da religião formalista e fria para viver, na prática, os ensinamentos de Jesus.
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No dia 24 de maio de 1738, numa pequena reunião na rua Aldersgate, em Londres, ouvindo a leitura de um antigo comentário escrito por Martinho Lutero, pai da Reforma Protestante, sobre a carta aos Romanos, John sente seu coração se aquecer. Experimenta grande confiança em Cristo e recebe a segurança de que Deus havia perdoado seus pecados.
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Essa experiência espiritual extraordinária é assim narrada em seu diário: “Cerca das oito e quinze, enquanto ouvia a preleção sobre a mudança que Deus opera no coração através da fé em Cristo, senti que meu coração ardia de maneira estranha. Senti que, em verdade, eu confiava somente em Cristo para a salvação e que uma certeza me foi dada de que Ele havia tirado meus pecados, em verdade meus, e que me havia salvo da lei do pecado e da morte. Comecei a orar com todo meu poder por aqueles que, de uma maneira especial, me haviam perseguido e insultado. Então testifiquei diante de todos os presentes o que, pela primeira vez, sentia em meu coração”.
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Nos 50 anos seguintes, Wesley pregou em média três sermões por dia; a maior parte ao ar livre. Houve uma vez que pregou a cerca de 14 mil pessoas. Milhares saíram da miséria e imoralidade e cantaram a nova fé nas palavras dos hinos de Charles Wesley, irmão de John. Os dois irmãos deram à religião um novo espírito de alegria e piedade.

Igreja

Como não havia muitas oportunidades na Igreja Anglicana, Wesley pregava aos operários em praças e salões – muito embora ele não gostasse de pregar fora da Igreja –, e tornou-se conhecidíssima esta sua frase: “O mundo é a minha paróquia”.
Influenciados pelos/as morávios/as, John e seu irmão Charles organizaram pequenas sociedades e classes dentro da Igreja da Inglaterra, liderados por leigos/as, com os objetivos de compartilhar, estudar a Bíblia, orar e pregar. Logo o trabalho de sociedades e classes seria difundido em vários países, especialmente nos EUA e na Inglaterra, e estaria presente em centenas de sociedades, com milhares de integrantes. Com tanto serviço, Wesley andava por toda a parte a cavalo, conquistando o apelido de “O Cavaleiro de Deus”. Calcula-se que, em 50 anos, Wesley tenha percorrido 400 mil quilômetros e pregado 40 mil sermões, com uma média de 800 sermões por ano. John Wesley deixou um legado de 300 pregadores/as itinerantes e mil pregadores/as locais. A Igreja Metodista, como Igreja propriamente, organizou-se primeiro nos EUA e depois na Inglaterra (somente após a morte de Wesley no dia 2 de março de 1791).

Legado

  • Além de milhares de convertidos/as e encaminhados/as para a santificação cristã, houve também obras sociais dignas de destaque, como estas:

  • Dinheiro aos/às pobres (Wesley distribuía);

  • Compêndio de medicina (Wesley escreveu e foi largamente difundido);

  • Apoio na reforma educacional;

  • Apoio na reforma das prisões;

  • Apoio na abolição da escravatura;

  • Atualmente, o total de membros da comunidade metodista no mundo está estimado em 75 milhões de pessoas. O maior grupo concentra-se nos Estados Unidos: a Igreja Metodista Unida nesse país é a segunda maior denominação protestante;

  • Hoje, além dos/as seguidores/as do Metodismo, a vida de muitos/as é influenciada pela missão de Wesley;

  • Movimentos posteriores como o Movimento de Santidade e o Pentecostalismo devem muito a ele;

  • A insistência wesleyana na busca da santificação pessoal e social contribuem significativamente para a ideologia da busca de uma vida e mundo melhor;

  • A Igreja Católica Romana recebeu indiretamente alguns conceitos de Wesley quando o cardeal John Henry Newman uniu-se a ela, vindo da Igreja Anglicana e concretizando em reformas litúrgicas, sociais, carismática e teo­lógica desde o Concílio Vaticano II.

  • Faleceu a 2 de março de 1791, em Londres, Inglaterra. Encontra-se sepultado em Wesley’s Chapel, Grande Londres, Inglaterra.


Fontes consultadas
1. http://freemasonry.bcy.ca/biography/wesley_j/wesley_j.html
2. Dan Graves. John Wesleys Heart Strangely Warmed. Christianity. 2007.
3. The Journal of Reverend John Wesley». T Mason, G Lane. 1837. p. 138.
4. http://www1.uol.com.br/bibliaworld/igreja/historia/metod.htm
5. LOCKMANN, Bispo Paulo; CONSTANTINO, Zélia.
Seguir a Cristo, manual de discipulado.
6. Wesley, John (1744).
Primitive Physic, Or, An Easy and Natural Method of Curing Most Diseases.
7. Brycchan Carey (2002). John Wesley (1703-1791). Brycchan Carey.
8. John Wesley (em inglês) no Find a Grave.

Redação EC
Publicado originalmente no Expositor Cristão de setembro/2017

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