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A vida nas próprias mãos

 Senhora na liteira com dois escravos em 1860, em Salvador, na Bahia | Foto: Biblioteca Nacional
Senhora na liteira com dois escravos em 1860, em Salvador, na Bahia | Foto: Biblioteca Nacional

Em 13 de maio completa 129 anos que foi abolida a escraviza??o dos povos africanos e de seus/as descendentes, processo que durou aproximadamente 350 anos e marcou profundamente hist?rias de vida e a mem?ria coletiva e individual da popula??o brasileira, sobretudo dos/as que descendem das popula?es escravizadas.

Sim, h? 129 anos foi abolida a escraviza??o humana em nosso pa?s, processo que n?o se deu apenas por decreto legislativo, mas por luta e resist?ncias de jovens, mulheres e homens afetados/as pela escraviza??o. No entanto, ? no tempo presente, per?odo p?s-aboli??o, que ainda lutamos contra a naturaliza??o da escraviza??o.

O p?s-aboli??o, para al?m de um tempo hist?rico, ? um marco conceitual que podemos definir como um per?odo de significa?es da liberdade. Para muitas fam?lias negras, esse tempo antecedeu o 13 de maio de 1888, para outras acorreu quase trinta, quarenta anos ap?s abolida a escraviza??o, para todas, a experi?ncia da liberdade est? ligada ao ato de ?poder ter a vida nas pr?prias m?os?.

Essa foi a frase que ouvi de minha m?e quando me contou sua hist?ria de vida. Disse ainda que seus pais (meus av?s) nasceram na ?Fazenda dos Alves?, e quando os/as filhos/as nasciam era j? uma obriga??o ficar nessa fazenda. Obriga??o que se findou com a fuga em massa dos/as afrodescendentes que ainda moravam na fazenda na d?cada de 1940, fugiram para ?poder ter a vida nas pr?prias m?os?.

Ter a vida nas m?os implicou em come?ar do zero, ressignificar o tempo e o espa?o. Ter a vida nas m?os significou romper com o sistema escravista e inaugurou uma nova possibilidade de existir e resistir. Ainda que o poder de decis?o tenha se apresentado em um contexto limitado, com grandes entraves de alcance hist?rico, trouxe m?ltiplos sentidos, como reatar la?os familiares desfeitos pela escraviza??o; ter expectativa de ascens?o; livrar-se dos dom?nios do escravizador.

Estamos no p?s-aboli??o e ainda lutamos contra a naturaliza??o da escravid?o que se estabeleceu nos processos de subalternidade a que a popula??o negra foi historicamente alocada, seja nas esferas das rela?es sociais, de trabalho, educacional, de direitos, econ?mica, est?tica.

Estamos no p?s-aboli??o! Acredito que hoje podemos olhar para o passado e ver as tantas conquistas que alcan?amos. Podemos caminhar no presente e manter viva nossa resist?ncia e a??o contra os retrocessos e desejar que o futuro nos conte de um tempo em que n?o nos calamos, mas mantivemos a luta para a constru??o de uma sociedade equ?nime para todas as pessoas.

Juliana de Souza Mavoungou Yade | Pessoa de Refer?ncia Pastoral do Racismo

Publicado originalmente no?Jornal Expositor Crist?o impresso de maio/2017

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