“Considero todo o mundo como minha paróquia”, declarou John Wesley em carta a John Clayton (28 de março de 1739), revelando uma vocação missionária que transcendia os limites eclesiásticos tradicionais. Esta compreensão profética define até hoje o chamado específico dos metodistas: ser igreja para além dos templos.
Wesley descobriu sua vocação missionária quando os púlpitos anglicanos se fecharam. Impedido dos espaços tradicionais, encontrou campos abertos, praças e lares como territórios missionários. Criou sociedades, classes e bandas ¾ estruturas alternativas que alcançavam pessoas que jamais entrariam numa igreja formal. Esta adaptabilidade tornou-se marca metodista: quando métodos convencionais falham, encontramos novos caminhos para cumprir nossa vocação.
A teologia wesleyana fundamenta esta vocação inovadora. A graça preveniente ensina que Deus trabalha em todos os lugares, não apenas nos templos. Os “meios de graça” incluem sacramentos e testemunho pessoal. Esta compreensão liberta os metodistas para exercer sua vocação missionária onde encontrem corações sedentos de Deus.
Vivemos mudanças paradigmáticas profundas. A revolução digital e transformações sociais criaram uma humanidade buscando sentido, identidade e pertencimento. Como observou Viktor Frankl, “a principal fonte motivadora do ser humano é a busca do sentido” (FRANKL, 1946). O cenário evangélico brasileiro reflete essa realidade: o Censo 2022 revela crescimento dos “desigrejados” ¾ pessoas que mantêm fé, mas se afastaram das estruturas tradicionais (IBGE, 2022). Multidões buscam respostas espirituais fora dos espaços religiosos convencionais. Como na Inglaterra de Wesley, os territórios tradicionais mostram-se insuficientes para alcançar corações sedentos de Deus.
Esta realidade desperta nossa vocação missionária metodista. Assim como o movimento metodista encontrou campos abertos quando os púlpitos se fecharam, devemos descobrir as novas “praças públicas” onde pessoas buscam sentido para a vida. Podem ser espaços digitais, mas também universidades, ambientes corporativos, grupos de apoio, centros culturais, academias, cafeterias; ou seja, qualquer lugar onde corações inquietos fazem perguntas existenciais fundamentais.
Nossa vocação missionária exige olhar atento e criativo para identificar estes territórios contemporâneos. Onde estão as pessoas que buscam propósito? Que espaços reúnem aqueles em crise existencial? Como podemos estar presentes autenticamente nestes contextos, oferecendo não respostas prontas, mas o testemunho vivo de uma fé que transforma e dá sentido à existência?
O metodismo brasileiro tem uma grande oportunidade de usar sua vocação missionária neste tempo de mudanças paradigmáticas. Podemos ser resposta para a humanidade. Nossa tradição de experiência pessoal com Deus atende à sede de autenticidade espiritual; nossa valorização da comunhão responde à necessidade de pertencimento genuíno; nossa flexibilidade estrutural permite alcançar pessoas onde elas estão.
A pergunta para nós metodistas é: onde estão as novas “praças públicas” em que as pessoas buscam sentido para a vida? Que espaços alternativos podemos explorar para cumprir a vocação missionária? Como podemos estar presentes autenticamente nos lugares onde corações inquietos fazem suas perguntas mais profundas?
Wesley nos ensinou que a vocação missionária metodista não conhece fronteiras nem limitações. Cada novo meio de comunicação, cada espaço social emergente representa oportunidade para cumprirmos nosso chamado: ser igreja para o mundo, levando a experiência transformadora do amor de Deus a toda criatura.

Rejane Gama
Pastora e Professora da FaTIM
Rio de Janeiro
Instagram: @rejanemetodista