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Evangelismo, crescimento de igrejas e revitalização: os desafios da Igreja Metodista no século XXI

Em um mundo em constante mudança, a Igreja Metodista brasileira também enfrenta situações que a chamam para um despertamento com o fim de manter sua relevância e seu papel histórico. Mesmo que experimentemos bolsões de crescimento e tenhamos diversas igrejas locais em um momento favorável, não podemos ignorar que existe um significativo número de comunidades locais que buscam caminhos para se revitalizar e reconectar com a cidade e a sociedade ao seu redor. Muitas delas estão em fase de estagnação e até mesmo um franco declínio. Desejo nesta reflexão explorar alguns dos principais desafios enfrentados pela Igreja Metodista no Brasil e deixar alguns caminhos de práticas possíveis para seguirmos atendendo ao chamado de Cristo para fazer discípulos e discípulas.

Os desafios atuais

  1. Decréscimo numérico

De acordo com estatísticas recentes, a Igreja Metodista em âmbito nacional registrou uma queda de 1,5% em 2023 em relação a 2022. Os dados apontam 258 mil membros, sendo recebidos 18.772 membros e retirados 14.812, nos diversos formatos canônicos, tanto de recepção quanto de exclusão. O saldo líquido desses números nos mostra dificuldades de retenção. Nesse mesmo período, o crescimento evangélico no Brasil alcançou 26,9% da população, com destaque para Norte e Centro-Oeste.

Alguns pontos que me chamaram a atenção na estatística podem nos indicar os motivos internos para isso. Um deles é que temos mais de 4.300 Escolas Dominicais, com 64 mil alunos registrados, mas apenas 37 mil em frequência média. Esse ponto indica fragilidade no processo de formação bíblica, doutrinária e de discipulado. A frequência apenas nos cultos torna muito superficial a vida com Deus e diminui o impacto do evangelho no dia a dia das pessoas, tornando subjetivo, do mesmo modo, seu compromisso com sua comunidade local.

Para nós, metodistas, estão ainda em pauta nesta reflexão os princípios wesleyanos: santidade pessoal e social, discipulado, missão integral… Isso me faz compreender que, além de tudo, podemos não estar, de fato, atendendo às necessidades espirituais e sociais das pessoas em nossa congregação. Isso possui um efeito de evasão muito grande.

Quando olhamos para a Bíblia, vemos como Atos 2.42–47 apresenta a comunidade como algo vital para o crescimento da Igreja e para a evangelização. E em Apocalipse 2-3, quando a Igreja está sob perseguição, o chamado é para a renovação e a firmeza. Em Efésios 4 está claro o princípio da edificação da igreja visando sua permanência no mundo. A construção de comunidades relevantes, que provoquem uma transformação real na vida espiritual, social, comunitária e eclesiástica na vida de seus integrantes, segue sendo primordial.

  1. Dificuldades Financeiras

As finanças também são um desafio significativo. Muitas Igrejas Metodistas enfrentam problemas para manter suas operações devido a uma combinação de receita insuficiente e gastos excessivos. O modelo de voluntariado para tarefas como relatórios e prestações de contas faz com que, em muitos lugares, faltem pessoas que ocupem essas posições. Também encontramos dificuldades em cobrar resultados. Como bispa de uma região e membro efetivo da Coream em minha região de origem por anos a fio, o problema dos dados era e é muito atual. Com a falta de relatórios, muitas vezes só conseguimos interferir em alguma realidade quando o pastor ou pastora pede sua mudança de nomeação devido à hipossuficiência financeira de sua própria casa, gerando desgastes e mais perdas na comunidade.

Sabemos que hoje persiste sobre nós uma situação externa de grande gravidade. Mas, com honestidade, precisamos reconhecer que a RJ não interfere diariamente na vida das igrejas locais no que tange à prestação de contas. Sem ela, o problema persistiria da mesma forma. Ou talvez até mesmo isso nos explique como acabamos numa RJ. E a falta de uma gestão financeira eficiente pode levar a uma crise de sustentabilidade, afetando a capacidade da igreja de realizar seu ministério, além de comprometer seu testemunho público na comunidade em que está inserida. O dinheiro é um dos temas mais espirituais para nossa realidade hoje!

Liderança, ministérios e discipulado

A liderança é outro ponto crítico. Muitos pastores, pastoras e líderes enfrentam desafios para equilibrar suas responsabilidades espirituais e administrativas. Estamos vendo constantes desgastes emocionais, físicos e espirituais. A gestão das emoções, da vida com Deus, das disciplinas espirituais parece algo distante e irreal para muita gente na igreja hoje. Assim, a juventude se sente intimidada e incapaz de liderar, prejudicando a sucessão geracional no longo prazo.

Além disso, o discipulado muitas vezes é visto como um processo meramente intelectual, perdendo-se a dimensão prática e relacional necessária para o crescimento espiritual dos membros. Ou, por outra parte, temos muitos discursos travestidos de discipulado, mas que na realidade são apenas uma forma de responder aos apelos institucionais, que na verdade não encontram eco na vida e na prática dos membros da Igreja e até mesmo por parte de pastores, pastoras e líderes.

Estratégias para a Revitalização e o Evangelismo

Ronaldo Lidório, uma grande referência na atualidade eclesiástica, nos aponta alguns caminhos necessários para a revitalização. Segundo ele, o primeiro passo para a revitalização é um diagnóstico adequado da situação atual da igreja. Isso inclui analisar estatísticas, ouvir a opinião dos membros e identificar as necessidades específicas da comunidade. O planejamento estratégico que defina metas claras e alcançáveis é decorrente dessa análise precisa.

Aqui cabe ressaltar que o ser humano tem uma grande dificuldade com um diagnóstico preciso porque obrigatoriamente isso nos leva à mudança ou a assumir que não podemos mais seguir. Como servos e servas de Cristo, nosso desafio por encarar uma realidade difícil começa por nós mesmos. Ainda hoje temos muita gente negando nossos problemas como se apenas a veemência nisso pudesse alterar realidades.

Nesse contexto, a capacitação da liderança é fundamental para a revitalização. E cada vez mais eu percebo que capacitar tem muito pouco a ver com cursos formativos. Não se trata apenas da formação teológica, que é fundamental. Mas também o desenvolvimento de habilidades práticas, como comunicação, gestão de conflitos e motivação de equipes. Percebemos que muita gente na liderança evangélica não se perde por causa de ideias ruins, mas por emoções ruins, desbalanceadas e fragilizadas. Precisamos entender que edificar o que a Bíblia chama de “homem/mulher interior”, de “mente de Cristo” e “caráter de Cristo” é desenvolver as habilidades que ajudem nossos membros a se verem, de fato, como mais do que vencedores diante dos desafios, plenamente realizados e felizes no serviço de Cristo. Afinal, líderes capacitados são essenciais para inspirar e guiar a congregação rumo ao crescimento. Até hoje são os “heróis e heroínas da fé” que nos inspiram em momentos difíceis.

De igual modo, a oração é uma ferramenta poderosa para a revitalização. A igreja deve incentivar a oração individual e coletiva, buscando a orientação de Deus em todos os aspectos do ministério. A espiritualidade deve ser o alicerce de todas as ações, garantindo que a igreja permaneça focada em sua missão divina. Atualmente, os líderes mais relevantes no mundo cristão têm recuperado conceitos como disciplinas espirituais, contemplação, anelo pela presença de Deus e a dimensão profética da fé como áreas a serem desenvolvidas, visando saber ouvir e ver a Deus em meio aos desafios.

Respeito aos processos é um valor que também precisamos registrar. As mudanças devem ser implementadas de forma gradual, permitindo que a congregação se adapte e se engaje. Isso inclui a introdução de novas práticas de adoração, a criação de pequenos grupos e a promoção de atividades missionárias. A avaliação contínua é crucial para garantir que as mudanças estejam surtindo o efeito desejado. As pessoas precisam se sentir ouvidas, respeitadas, conduzidas e amadurecidas no caminho, tornando-se autônomas, isto é, capazes das melhores decisões, no mesmo nível que interdependentes, isto é, habilitadas a conviver no corpo de Cristo, fortalecendo-se mutuamente.

Todas as vezes em que penso sobre a nossa Igreja e por ela eu oro, meu coração é tomado de uma profunda convicção de que “aquele que começou a obra em nós há de completá-la”. Deus ama a Igreja Metodista. A revitalização é um processo desafiador, mas também cheio de esperança. Ao enfrentar os desafios com coragem e determinação, a igreja pode se reinventar e se tornar novamente um farol de luz em suas comunidades. Com um diagnóstico cuidadoso, planejamento estratégico, capacitação da liderança e uma espiritualidade vibrante, sob a ação do Espírito Santo, a Igreja Metodista pode superar os obstáculos e entrar em um novo tempo de crescimento e impacto.

 

 

 

 

 

 

Bispa Hideide Brito Torres
Presidente da 8ª Região Eclesiástica
episcopal8re@gmail.com
@hideidetorres

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