
O dia 4 de junho foi institu?do pela Organiza??o das Na?es Unidas (ONU), em 1982, como sendo o Dia Mundial das Crian?as V?timas de Agress?o e, de acordo com a ONU, s?o quatro principais categorias de viol?ncia: abusos f?sicos, psicol?gicos, sexuais e neglig?ncias. Na edi??o de maio, o Expositor Crist?o abordou em uma de suas reportagens o Dia Nacional de Combate ao Abuso e ? Explora??o Sexual de Crian?as e Adolescentes, que foi lembrado no dia 18 de maio.
Retomamos, em partes, esse assunto, pois, segundo dados do Fundo das Na?es Unidas para a Inf?ncia (Unicef), somente em 2015 foram registradas mais de 17,5 mil den?ncias de abuso sexual contra crian?as e adolescentes, o que equivale a duas den?ncias por hora. Os n?meros assustam. S?o 22,8 mil v?timas naquele ano, sendo 70% delas meninas.
Com relatos cada vez mais frequentes, o dia 4 de junho se torna importante para um processo de conscientiza??o e a necessidade emergente para discutir, debater e dialogar nas igrejas locais as formas para combater a viol?ncia infantil.
Se voltarmos ao passado, quando o povo hebreu saiu do Egito, as crian?as e mulheres n?o eram contadas entre os homens. A partida de Israel, narrada na B?blia de Jerusal?m, em ?xodo 12.37, destaca o seguinte: ?Os filhos de Israel partiram de Rams?s em dire??o a Sucot, cerca de seiscentos mil homens a p? ? somente homens, sem contar suas fam?lias (mulheres e crian?as)?.
Um dos documentos da Igreja Metodista, a Pastoral da Crian?a, reconhece isso ao abordar o tema da crian?a na era medieval: ?Pelo menos at? o s?culo XII, n?o retrata, de forma alguma, a vida infantil. Quando o fizer, as crian?as ser?o representadas como adultos em escala reduzida. Na verdade, a explica??o para essa lacuna ? indicada pelo historiador franc?s Philippe Ari?s: ?N?o havia lugar para a inf?ncia nesse mundo??; na era moderna: ?As crian?as come?am a sair do anonimato?, e desde a ?poca de John Wesley, do s?culo XVIII para c?, ?Deus come?a a sua obra com as crian?as?, diz o documento.
Claro que a sociedade muda com o tempo. As crian?as s?o lembradas, s?o contadas no Censo Demogr?fico, e a viol?ncia contra a crian?a e ao adolescente desperta interesse p?blico, principalmente quando se trata de abusos dentro das quatro categorias destacadas pela ONU ? f?sicos, psicol?gicos, sexuais e neglig?ncias.
Estudiosos/as apontam que at? o s?culo XVIII, a crian?a tinha pouco valor e, consequentemente, era muito desrespeitada. Sofria [e ainda sofre] com trabalhos for?ados, ? abusada sexualmente, sofre abandono de incapaz, al?m de ser submetida a todo tipo de agress?o. Muitas delas, as meninas, s?o prometidas em casamento em alguns pa?ses; j? os meninos s?o for?ados a envolver-se em conflitos como soldados-crian?a ou a trabalhar em condi?es arriscadas como crian?as trabalhadoras ? situa?es que limitam severamente as oportunidades para concluir os estudos ou de escapar da linha de pobreza, como aponta relat?rio da Unicef.
Somente no s?culo XIX, as crian?as passam a ser consideradas como seres humanos aut?nomos e, consequentemente, a ci?ncia se desenvolveu com os estudos nas ?reas da pedagogia, psicologia, pediatria e psican?lise, com o intuito de diminuir todo e qualquer tipo de viol?ncia para melhorar a qualidade de vida delas. Portanto, o cuidado, o zelo para com as crian?as n?o depende somente dos pais, mas dos/as profissionais da sa?de, professores/as, governantes, parentes, membros da igreja local, ou seja, a sociedade de um modo geral ? t?o respons?vel pelo zelo das crian?as quanto os pais.
A Unicef divulgou relat?rio sobre a Situa??o Mundial da Inf?ncia 2016: Oportunidades justas para cada crian?a, destacando que quase 70 milh?es de crian?as poder?o morrer antes do seu quinto anivers?rio, sendo 3,6 milh?es s? em 2030, o ano limite para os Objetivos de Desenvolvimento Sustent?vel.
O diretor executivo da organiza??o, Anthony Lake, destacou que crian?as da ?frica ao sul do Saara ter?o dez vezes mais probabilidade de morrer antes de completar os cinco anos de vida, se comparado com as crian?as de pa?ses de alta renda. Segundo Lake, mais de 60 milh?es de crian?as em idade escolar prim?ria estar?o fora da escola e, aproximadamente, 750 milh?es de mulheres ter?o se casado ainda crian?as ? tr?s quartos de um bilh?o de crian?as noivas.
Turismo e a explora??o sexual
Explora??o sexual das crian?as no turismo ? classificada como praga social. O Minist?rio do Turismo (MTur) lan?ou a campanha ?Proteger, Respeitar e Garantir – Todos Juntos pelos direitos das crian?as e adolescentes?. A iniciativa quer incentivar den?ncias contra qualquer caso de abuso ou explora??o de crian?as e adolescentes, por meio do Disque 100. A campanha conta com tr?s v?deos que foram divulgados nas redes sociais. A Ouvidoria da Secretaria de Turismo destacou que, somente em 2016, foram registrados mais de 77,2 mil relatos de viola??o dos direitos das crian?as e adolescentes. O n?mero ? 3% menor em rela??o ao registro do ano anterior. O per?odo entre 5 e 24 de fevereiro de 2016, temporada de carnaval, foi respons?vel por 17,4% de todas as den?ncias do ano.
O ministro do turismo, Marx Beltr?o, defende a campanha. ?N?o podemos permitir que o turismo, uma atividade econ?mica que gera milh?es de empregos, seja usado como plataforma para criminosos/as explorarem as nossas crian?as e adolescentes. Quanto mais pessoas conseguirmos envolver nessa rede de prote??o, melhor?, destacou.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic?lio (PNAD) apontam que 80% do trabalho infantil se concentra hoje na faixa et?ria de 14 a 17 anos. A maioria desses/as jovens ? do sexo masculino (65,5%), aqueles/as que vivem em ?reas urbanas somam 69% e os que recebem remunera??o chega a 74,9%. Eles/as trabalham em m?dia 26 horas por semana e frequentam a escola.
Igreja como plataforma educativa
O 16? Conc?lio Geral, em seu Plano Nacional, ressaltou: ?As primeiras e principais v?timas das injusti?as sociais s?o as crian?as e os/as adolescentes, exigindo de n?s compromisso priorit?rio, por ser a fase fundamental de forma??o da personalidade e identidade com grupos sociais?. O saudoso Bispo Isac Alberto A?o j? dizia com muita contund?ncia: ?Se h? prioridades, s?o para as crian?as?.
Foi pensando nas afirmativas acima que a Igreja Metodista elaborou a Pastoral da Crian?a. O documento de 27 p?ginas traz alguns eixos fundamentais: a) a import?ncia da educa??o crist?; b) as crian?as da comunidade e da cidade em geral. A Pastoral ? dividida em quatro pontos centrais: I – Crian?a, agente da miss?o; II – A Crian?a na B?blia; III – A Crian?a na hist?ria da Igreja; IV – A crian?a e a a??o pastoral da Igreja.
O documento elaborado pelo Col?gio Episcopal da Igreja destaca que ?meninos e meninas tornam-se v?timas comuns de abuso e explora??o. Rec?m-nascidos/as conti?nuam a ser enjeitados/as e expostos/as. E isso ocorre numa sociedade nominalmente crist?. A Pastoral salienta a import?ncia de a lideran?a cl?riga estudar o documento e assumir o verdadeiro compromisso educativo com as crian?as.
Poder?amos trazer v?rios exemplos de pastores e pastoras, igrejas locais que valorizam as crian?as nas celebra?es e fora delas, mas nesta edi??o optamos em destacar o trabalho realizado pela Igreja Metodista em Corn?lio Proc?pio, no Paran?, sobre o qual voc? l? na coluna ao lado.
Jos? Geraldo Magalh?es
Editor-chefe EC